Um documentário da Netflix, Trabalho (2023), mostrou que aparelhos eletrônicos hoje em dia estão muito fáceis de adquirir. TVs com grandes telas, aparelhos celulares e muitos outros tipos de bens estão mais acessíveis como nunca, mas que por outro lado os preços da moradia subiram mais de quatro vezes comparadas com o que eram na década de 70. Ter uma formação universitária está três vezes mais caro do que se era. Essas informações são do mercado norte americano, mas em qualquer outro lugar do planeta ocorre situações similares. Viver está cada vez mais custoso.

Embora o custo mais alto de se viver segundo o documentário se refere aos aspectos financeiros, que demanda que se trabalhe muito mais para se ser capaz de obter coisas tal como a própria moradia, educação, saúde e etc. o custo para se viver a vida em si, de forma geral, também está muito alto. Explico: somos bombardeados constantemente com ideias de que basta querer e se ter boa vontade que tudo dá certo nessa vida, que a gente pode ter e ser o que quiser. A verdade é que isso é uma bela mentira.

Evidentemente, viver requer esforços e, aliás, muito. Construir uma vida não é algo que vem fácil e gratuitamente e exige toda uma batalha. Manter relacionamentos, trabalho, estudos são coisas que reivindicam uma grande soma de investimentos tantos externos (financeiramente) quanto internos (paciência, persistência, curiosidade, paixão, etc.). Sem esses investimentos não há como construir o que quer que seja nessa vida. Até aí, tudo bem, é natural, mas passa a ser desumano quando adicionamos a todo custo que a vida naturalmente requer custos extras e desnecessários.

Quando vivemos achando que precisamos ser de um jeito ou outro, ser isso ou aquilo, ter tal ou qual coisa começamos a exagerar os custos e colocamos impedimentos para vivermos com qualidade. Os custos financeiros das coisas que realmente importam, como moradia, educação, saúde, tal como mostrado no documentário, subiram de tal forma que perdeu o contato com a realidade e isso ocorre também dentro de nós. Extrapolamos os custos do que consideramos que seja uma boa vida e a obrigação de se ser de tal forma idealizada acrescentou custos cruéis que tiram o prazer de qualquer um.

Hoje há muito frequente a ideia de que todo mundo precisa ser famoso, ser um fenômeno na internet, aparentar que está por cima de tudo e de todos. Parece que se alguém não for digno de capa de revista, não estiver com fotos postadas de que estão gozando a vida adoidado é porque se trata de um fracassado. Há toda uma exigência de se viver uma vida idealizada e não uma vida real. Isso tudo são custos que criamos e exigimos que tornam a vida praticamente intolerável e impagável.

Parece que nos enganamos constantemente que precisamos disso e daquilo e deixamos de ver o que realmente importa nessa vida. Ficamos tão envolvidos no que achamos que precisamos para viver bem que não nos damos conta do que é realmente necessário. Tem gente que fica encantada com os maravilhosos aparelhos eletrônicos que não obtém o que realmente precisam. Do mesmo jeito, tem gente que fica vidrada nos 15 minutos de fama que tenta buscar desesperadamente que põe de lado o que precisam de fato desenvolver em suas vidas. Perdemos a noção dos custos das coisas tanto as materiais quanto as imateriais.

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A opinião do colunista não é, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina