Os transtornos alimentares são cada vez mais comuns e são sintomas do quanto estamos falhando em organizar nossa mente de uma maneira favorável e saudável. Esses transtornos não ocorrem à toa, mas se originam em como afetos e emoções são sentidos dentro de nossa subjetividade. Se não há uma mente para dar conta do que sentimos vamos desenvolver os mais diversos sintomas e sofrermos, diminuindo o nosso prazer pela vida.

A relação que muitas vezes desenvolvemos com a comida pode ser doentia. Na anorexia vemos jovens que não ingerem calorias o suficiente, ficando esqueléticos e colocando a própria vida em risco. Na bulimia há ingestão de comida em excesso, o que acaba gerando culpa e mal-estar levando o indivíduo a provocar vômitos como forma de se aliviar. Na compulsão alimentar a pessoa come demais, o que vai aumentando muito o seu peso trazendo sérios problemas de saúde. Todos esses transtornos minam a autoestima e inibem o desenvolvimento de relações sociais e pessoais, fazendo com quem sofra de algum deles se sinta fracassado e se coloque em isolamento agravando ainda mais os seus transtornos.

Quem vive, viveu ou tem contato próximo com alguém que passa por esse tipo de sofrimento sabe o quanto isso tudo é pesado e assustador. A sensação de impotência é avassaladora e a vida torna-se algo que fica muito pouco, ou quase nada, aproveitada. Além de pensar nesses transtornos em termos médicos é necessário também levar em consideração a mente desses indivíduos. Se ela não for olhada e tratada fica muito pouco provável uma verdadeira melhora e estabelecimento da saúde.

Os transtornos alimentares são originados quando o comer e a relação com os alimentos não estão a serviço da vida, mas representam de forma distorcida afetos, sentimentos e emoções que não encontram espaço dentro da mente para serem ‘digeridos’. Por isso tais transtornos são bem mais frequentes entre os adolescentes que ainda não contam com uma subjetividade minimamente forte o suficiente para dar conta de tantas emoções.

Jovens e pessoas que se sentem perdidas e confusas sobre o que se passa dentro de si ficam tão desorganizadas que procuram desesperadamente alívios para a confusão que vivem e se relacionam com seus corpos e vidas de maneiras caóticas e perigosas. Há um ditado antigo que diz “para quem está se afogando, jacaré é tronco”. Tal ditado nos mostra que no desespero uma pessoa pode agarrar justamente o que não devia e com isso sofrer um destino tão horrível quanto aquele do qual queria escapar.

Para não se afogar é preciso aprender a nadar, assim nossa chance de abraçar um jacaré fica reduzida. Nesses casos o que se faz necessário mesmo para nadar é aprender a lidar com a própria subjetividade, com o que se passa dentro de nossa mente. Apenas dessa maneira podemos encontrar meios apropriados para enfrentar a vida e tudo o que ela nos traz. Dessa forma podemos nos relacionar com a vida de modo mais saudável e menos custoso. Quando isso se torna possível os transtornos, seja eles quais forem, não precisam dominar como vamos viver.

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