Toda pessoa tem o potencial de ser feliz. Se vai desenvolver ou poder desenvolver esse potencial é outra história. No entanto, a felicidade é algo almejado e muitos a procuram com desespero fazendo com que a felicidade se torne quase que como uma caça ao tesouro, ou seja, como se pudéssemos encontra-la ali ou em algum outro lugar onde ela esteja escondida. No imaginário, os piratas de antigamente escondiam os seus tesouros em ilhas desertas e faziam mapas que eram roubados e passavam de mãos em mãos até alguém voltar a tal ilha e encontrar onde o “x” marcava para daí levar o ouro. Felicidade não se trata disso e sua procura pode ser um peso na vida.

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. | Foto: istock

Quase todo ano escrevo ou falo sobre o tema da felicidade. Não só eu, mas muitos outros profissionais da saúde mental discorrem ou voltam a esse assunto de tanto que ele se faz importante. Todo mundo quer ser feliz. Não há ninguém que não queira, porém a felicidade apesar de ser tão desejada é muito mal compreendida e quando não compreendemos bem o que desejamos vamos terminar sofrendo porque vamos procurar de maneira equivocada. E quanto mais equivocadamente procuramos algo mais não vamos encontrar e mais vamos sentir que estamos fracassando.

Hoje em dia a busca pela felicidade se tornou uma verdadeira maldição na vida das pessoas. Não apenas de pessoas, mas de muitas empresas também, já que num artigo recente da revista Você RH da editora Abril mostrou o quanto muitas empresas buscavam “trazer” uma felicidade aos seus funcionários que resultava no oposto: eles ficavam mais ansiosos e menos felizes. Em muitas empresas colocavam-se salões de jogos, festas e demais alternativas com o objetivo de que seus colaboradores ficassem felizes, mas quanto mais procuramos a felicidade menos a encontramos e mais a buscamos aflitivamente e isso tudo cria um ciclo sem fim e desesperador.

Felicidade não se trata de mercadoria que pode ser comprada ou encontrada por aí. Não é caça ao tesouro como disse acima, mas de algo subjetivo, portanto imaterial e não depende tanto dos detalhes externos e concretos da vida, mas do quanto somos capazes de cuidar de nós mesmos e de lidar com a vida. Obviamente, que um ambiente ao redor miserável e com faltas de coisas básicas para a vida impede mesmo a felicidade. No meio da guerra, da privação dos direitos, da fome e constante violência a felicidade vai ser apenas utopia, só que quando as necessidades básicas são atendidas a felicidade se torna uma questão do quanto nos cuidamos verdadeiramente.

Ser feliz não se baseia em ter-se tudo materialmente ou estar a todo instante gratificando os desejos ou levar uma vida sem sofrimento. Se a felicidade é entendida assim nunca mesmo vai ser possível ser feliz e vamos a toda hora atrás de algo que não tem como existir. A felicidade depende de nossa habilidade de tolerar até mesmo as adversidades da vida e aproveitar tudo o que for possível. Só pode ser feliz quem se permite abrir mão da vida perfeita e idealizada. Quem abre mão do tesouro (idealização) fica livre para apreciar o que está disponível de forma mais fluída. Se não corrermos desesperadamente atrás da felicidade ficamos disponíveis para desfrutar a vida como ela é com todas as suas dificuldades, mas também com todas as suas maravilhas. Em outras palavras, felicidade tem mais a ver com as condições internas que desenvolvemos do que com o que recebemos externamente.

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A opinião do colunista não é, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina

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