As pessoas vivem como se estivessem numa montanha-russa. Há momentos em que elas se sentem bem, outras horas sentem-se mal e ficam perdidas com tantas mudanças em seus estados de espírito. A verdade é que esse sentimento de confusão vem da ideia de que a vida deveria ser uma coisa estável em todos os momentos, como se isso fosse possível. Espera-se que a vida externa, o mundo, as situações sejam estáveis e seguras, mas confia-se e fia-se muito pouco nas próprias mentes para lidar com a vida. O que precisa ser estável não é a vida, mas nossas mentes.

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. | Foto: istock

A maneira que lidamos com a vida, com os nossos relacionamentos, que nos posicionamos, é tudo intermediado pela mente. Portanto, não é de se surpreender que quanto mais temos uma mente desenvolvida mais desenvolvido serão nossos relacionamentos e nossos posicionamentos frente ao mundo. O outro lado também é verdadeiro. Quanto mais precária e primitiva for nossa mente mais isso impossibilitará vivermos com mais qualidade, mas vamos encontrar bem mais perrengues e adversidades. A vida está em completa mudança todo o tempo e não para a fim de que a gente se adapte a contento, mas com uma mente minimamente ampliada lidamos com todas as mudanças de forma mais eficiente.

Até mesmo a mente está em constante transformação conforme aprendemos com as experiências ao longo da vida. Quando aprendemos que a montanha-russa é um brinquedo podemos entrar em seus vagões que sobem e descem e até se divertir com isso, mas se não entendemos que se trata de algo recreativo e alguém for colocado em seu vagão à força sem nunca ter ouvido falar em montanha-russa iria ficar com muito medo e se sentir violentando. Com a vida também é assim. Se a gente sabe que a vida não é estável e aceitamos isso podemos viver lidando com ela da melhor forma possível, caso contrário a gente se sente incompetente para encarar a vida.

Sem uma mente trabalhada não temos mesmo como viver com um mínimo de qualidade que seja. Sem mente não temos recursos para lidar com o que sentimos e até mesmo coisas básicas não são atendidas como merecem. Vejo a explosão de comerciais na TV e internet de antiácidos, remédios que ajudam na má digestão, no funcionamento do fígado, analgésicos, etc. Não que eles não sejam importantes. Claro que são, mas fica-se a ideia de que podemos exagerar nas bebidas e comidas a toda hora e que nosso mal-estar pode ser resolvido com eles como se nós não tivéssemos uma responsabilidade pela nossa saúde. Delega-se às substâncias químicas o reparo de um estrago que se tivéssemos mais consciência não teria de fato acontecido em primeiro lugar. Sem mente nem da nossa saúde mais essencial conseguimos dar conta.

Apenas à medida que expandimos a própria mente e subjetividade e criamos recursos para pensar a vida é que podemos lidar com esta de uma forma mais proveitosa e sem tanta confusão de estarmos numa montanha-russa onde tudo está em frequente mudança. A estabilidade, que nunca é completa, precisa ser um estado da mente e não um fator externo. Lá fora vamos todos subir e descer desvairadamente em muitos períodos, mas dentro podemos encontrar, se construirmos, um lugar onde possamos ficar mais à vontade. O furacão é um fenômeno da natureza avassalador que destrói as coisas em sua volta, mas o olho do furacão, bem no seu centro, é um lugar quieto e calmo. Sabiam disso? Precisamos encontrar e aprender a habitar o olho do furacão dentro de nós.

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A opinião do colunista não é, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina

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