Todo o mundo sabe como funciona a lógica dos mercados. É considerado esperteza e até estimulado a barganha, o ato astucioso de se oferecer menos e levar mais. Isso é visto como bom negócio. Um bom negociante é aquele que consegue ganhar mais pagando menos por determinada mercadoria. Não é à toa que a as empresas valorizam enormemente aqueles funcionários que são hábeis na esperteza de ganhar gastando pouco. Até aí, se isso ficasse restrito aos ambientes dos negócios, tudo bem, mas o problema passa a ser quando isso transborda para os relacionamentos.

Imagem ilustrativa da imagem Lucro nos relacionamentos
| Foto: iStock

O raciocínio do mercado não deveria encontrar lugar nos relacionamentos humanos, sejam eles entre a família, amigos e principalmente amorosos. Quando a lógica mercantilista se impõe sobre os relacionamentos os resultados são sempre insatisfações e desentendimentos. Entretanto, muitas pessoas querem forçar seus relacionamentos como se eles se tratassem de negócios e não algo de natureza bem diferente.

Em outras palavras, quando as pessoas vivem seus relacionamentos como transações comerciais o que acontece é que alguém sempre quer levar vantagem, alguém quer sempre ganhar sobre o outro e isto é fatal para a saúde de qualquer relação que se preze. Nesses casos há toda uma cobrança que envenena as possibilidades que um relacionamento pode oferecer e abre as portas para mágoas e ressentimentos.

Dentro da família há pais que cobram que seus filhos sejam a realização de seus desejos e quando isso não ocorre há toda uma situação de peso e mal estar. Há filhos que esperam que seus pais sejam dessa ou daquela forma, que deem isso ou aquilo e ficam frustrados e ressentidos quando tal não acontece. Há amigos que só se relacionam se o outro preencher determinada condição. Porém, nada é mais prejudicial quando isso acontece nos relacionamentos amorosos.

Quando um membro do par romântico mede quanto está ganhando sobre o outro, transforma o que poderia ser uma experiência única de descoberta e desenvolvimento em uma outra coisa distorcida. Quem dá mais ou menos dentro de uma relação vira um negócio, fonte de inúmeros desgostos. Isso acontece muito frequentemente e destrói coisas importantes. Claro que nem tudo devemos aceitar. Se eu estou de fato com alguém e essa pessoa nunca me responde ou mostra interesse, evidentemente que a melhor coisa a fazer é seguir em frente porque dali não vai vir nada. Não precisamos ser idiotas, mas se nos relacionamos querendo juros e correção monetária do nosso(a) companheiro(a) metemos os pés pelas mãos.

Se esperamos lucrar o melhor é fazer um investimento financeiro, e não amoroso. Investimentos financeiros fornecidos por bancos e outras agências nos entregam o lucro que queremos e precisamos, mas dentro dos relacionamentos afetivos a lógica deveria ser outra. Os ganhos nos relacionamentos, e são muitos, são de outra ordem e natureza - e muito mais enriquecedores também. Contudo, para acessá-los se faz necessário desenvolver uma sutileza que saiba valorizar outras coisas além do ganho mercantil e que pode ser mensurado. Ninguém precisa estar num relacionamento no qual não haja ganhos, mas é preciso primeiro compreender a natureza do ganho que um verdadeiro relacionamento pode oferecer. O mercado, nessas horas, não serve como referência.

A opinião do colunista não é, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina

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