Ouvi uma pessoa falando sobre carma e outros conceitos orientais na internet, mas percebi o quanto vários desses conceitos são bem mal entendidos e cada um os interpretam como bem entendem virando uma verdadeira confusão. O mito da torre de Babel conta sobre uma sociedade monolíngue que decide construir uma torre que alcance o céu. Deus, não apreciando tamanha prepotência, confunde-as fazendo com que cada um falasse uma língua diferente como meio para que não se entendessem. E assim, segundo o mito, foram criadas e espalhadas as línguas pelo mundo afora. Esse mito mostra a confusão criada quando não se entende verdadeiramente o que o outro realmente está querendo dizer.

É muito propício à confusão quando determinados termos e conceitos são retirados de seu devido contexto e ‘explicados’ de maneira grosseira e inconsequente. A ciência psicanalítica que o diga. Conceitos fundamentais criados pela psicanálise como inconsciente, complexo de édipo, narcisismo, são usados de maneira leviana levando a uma série de mal-entendidos. Isso só cria confusão e espalha ignorância que gera inúmeros equívocos e até causam danos. O conceito de carma que citei acima foi explicado no programa que assisti de maneira muito moralista e superficial. Um termo tão importante quanto este merece ser mais bem aprofundado.

A pessoa que falava sobre carma afirmava que se trava de uma punição, ou seja, se alguém faz isso ou aquilo, tal ação vai acarretar uma determinada punição. Isso é muito equivocado. Preciso, primeiro, deixar claro que não sou um especialista nas filosofias orientais, mas creio que entendi o conceito de carma de uma maneira um pouco mais salutar. Carma é uma palavra que vem do sânscrito e significa ação. Para toda ação há uma consequência. Simples assim. Toda ação leva a uma determinada consequência. Não se trata, então, de punição, mas de uma decorrência que se origina de uma dada atuação.

Punição implica uma condenação, um juízo de valor que julga e sentencia. Nada poderia ser mais diferente do conceito de carma. Uma pessoa que trata mal seu corpo comendo de maneira nada saudável, sem fazer exercícios, sem procurar levar uma vida mais sã pode desenvolver problemas cardíacos, por exemplo. Isso não acontece porque a pessoa está sendo punida, mas porque ela não soube cuidar de si mesma, porque não se responsabilizou pela própria saúde. Esse problema cardíaco é consequência de uma série de eventos, mas não é uma punição.

Somos responsáveis por como vivemos. Tanto sobre nossa saúde física quanto mental. Se escolhemos determinados caminhos isso levará a determinados resultados. Daí que é fundamental saber escolher em nossas vidas. É vital se responsabilizar pelo o que fazemos ou deixamos de fazer conosco. Não porque seremos punidos lá na frente, mas pela razão de que determinadas escolhas podem levar a desdobramentos que no fundo vão nos ser desfavoráveis e que podem ser evitados. Isso é saber viver.

Contudo, entender que carma é uma ação que nos leva a determinado resultado impõe que não possamos mais colocar a culpa no destino, por exemplo. Aí nós respondemos para nós mesmos e muita gente não gosta e tenta fugir disso. Falar que o carma de uma pessoa é negativo e que o destino faz tal pessoa sofrer é tirar a possibilidade de alguém tomar a direção da própria vida e escolher rumos mais apropriados. Não é o destino e nem o seu horóscopo, ou melhor dizendo, horroróscopo, como podemos brincar de chamar, que vai decidir a sua vida, porém você mesmo. Cabe a cada um decidir no que quer acreditar e sobre o que vai se responsabilizar em sua vida.

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