Continuam com força total nas redes sociais as brigas políticas. Trocam-se mensagens ofensivas das mais variadas formas e usa-se a pandemia da Covid-19 para apoiar ou condenar a visão de um grande número de políticos e governantes. Obviamente, com toda a consequência da pandemia em nossas vidas, tanto físicas quanto financeiras, as decisões políticas nos afetam e nos interessam. Devemos mesmo exercer nosso papel de cidadãos que participam e fiscalizam os ditames dos governos, porém, o que vejo acontecer é de outra ordem e não uma verdadeira discussão política. A gente ainda não sabe discutir política, mas sabe se envolver apaixonadamente, em trocas de ofensas.

Imagem ilustrativa da imagem Gladiadores da era digital
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Quando alguém elege seu político como detentor da verdade suprema e irretocável, fica muito fácil considerar que quem não comunga da mesma cartilha seja tratado como um pária que precisa ser anulado. As questões não ficam na dimensão da política e da racionalidade, mas tomam outro rumo. Elas se tornam pessoais e emocionais. Quando alguém fala diferente é tratado como ofensa que necessita de um ato de vingança. Daí ocorrerem tantos desaforos trocados nas redes sociais.

Não só com a política, mas com a religião também acontece isso. Quando alguém troca ofensas com outros por questões de política, religião, esportes, na verdade está usando esses assuntos para projetar suas ansiedades que não estão sendo elaboradas internamente. Vamos falar a verdade? A política é motivo para brigas? A religião é razão para tantos xingamentos? O esporte é motivo para tantos confrontos? A resposta é um redondo NÃO.

Tudo isso não justifica as brigas e ofensas que vemos sobrando por aí porque, na verdade, tanta violência está em outro lugar, está dentro de cada um de nós. As pessoas não sabem como lidar com seus medos e angústias e procuram, desesperadamente, certezas que viriam para aliviar as inseguranças e, por isso mesmo, elegem governantes, religiões, times esportivos ou qualquer outra coisa como algo que dê alguma certeza para suas vidas. O outro (político, religião, time) fica como um objeto mágico e é defendido com unhas e dentes. Qualquer ameaça sentida a esse objeto hiper valorizado é imediatamente atacada. As trocas de ofensas que vemos nas redes sociais vêm disso. Ninguém está falando do assunto que parece estar em pauta, mas está falando que não suporta inseguranças e que atacará quem tira as suas ilusões. Essas brigas estão numa dimensão do desespero e não da razão.

Para poder haver uma discussão de fato sobre alguma coisa é necessário deixar de lado as paixões e a busca por certezas. É necessário que haja capacidade de discernimento. Quem não for capaz de discriminar entre o próprio desejo e a realidade fica cego e surdo e sem a menor condição de agir com coerência.

Quando assisto às lutas dos gladiadores das redes sociais me lembro dos gladiadores da Antiga Roma. Naquele tempo os gladiadores se envolviam em lutas mortais porque suas vidas dependiam daquilo. Era matar ou ser morto, não havia outra alternativa. Só que agora essas pessoas que transformam a internet num Coliseu moderno acham que estão lutando por suas vidas e certezas da mesma forma, mas estão apenas mostrando o quanto estão equivocadas e - por que não dizer - enlouquecidas.