Praticamente todos os pais de crianças e adolescentes vão confirmar que seus filhos estão dormindo pouco, muito pouco. Os próprios pais também estão tendo menos horas de sono, principalmente nas grandes cidades. Parece que antes dormia-se mais e, segundo muitas pesquisas recentes, realizadas em várias partes do Planeta, essa redução na quantidade de horas dormidas está realmente acontecendo. Dormir menos é algo sério que pode resultar em vários efeitos nocivos tanto à saúde física quanto mental.

Imagem ilustrativa da imagem Estímulos e tortura
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Sabe-se que a falta de sono de qualidade traz prejuízos para o sistema endócrino, prejudicando a correta formação de hormônios importantes, afeta o sistema cardiovascular e até o sistema neurológico. Fora os prejuízos orgânicos, dormir pouco faz com que nosso psiquismo também seja afetado. Formação de novas memórias, bem estar para se enfrentar a vida e calma são elementos que ficam prejudicados. E é no sono que também elaboramos muito do que nos acontece na vida. Não é à toa que, antigamente, dizia-se que “o sono é um bom conselheiro”. Infelizmente esse ditado hoje não é mais lembrado como deveria. Sem sono comprometemos nossa mente e como vamos lidar com a vida.

Mas por que será que estamos dormindo menos? Uma das possíveis respostas a essa indagação vem do fato de que é muito difícil se desapegar dos estímulos com que somos bombardeados a toda hora. Quanto mais nos estimulamos, quanto mais nossos sentidos são exigidos, menos conseguimos cuidar de nós mesmos. Os smartphones que carregamos conosco a todo instante nos chamam para dar conta de várias redes sociais. É muita foto para curtir, para postar, há muitos comentários a fazer e responder. É o grupo da família, dos amigos da faculdade, do trabalho, da escola, da academia. É muita série para por em dia, muito filme para assistir. Muita reportagem e notícias para ver ou ler. Enfim, há estímulos de todos os lados e isso pode nos fazer mal.

Não quero pregar, contudo, a bobagem de dizer que a tecnologia nos está fazendo mal. Ela é extremamente útil e divertida e veio para ficar, não tem volta. A questão não é maldizer a tecnologia e exaltar um passado onde, na verdade, tinha muitos outros problemas. O que se faz pertinente é saber lidar com a vida, saber se desapegar dos estímulos. Isso está na dimensão de se poder dizer não. Os estímulos nos chamam, mas há horas que se faz vital dizer não, trazer limites. Quem não diz “não” fica apegado a tudo o que surge na frente e não se permite viver outras coisas.

Os estímulos podem ser torturantes apesar de extremamente sedutores. Muitas vezes não conseguimos dizer não aos filhos, mas isso ocorre porque também não estamos conseguindo dizer não a nós mesmos. Estamos hipnotizados pelos estímulos e virando zumbis. Pessoas constantemente estimuladas não têm tempo para sentir e se sentir e por isso mesmo não comem adequadamente, não vivem bem nem dormem bem. Deixam de ser pessoas e passam a ser ávidos consumidores de um estímulo atrás do outro.