Imagem ilustrativa da imagem Escolha caminhar o caminho
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“Um discípulo pergunta ao seu mestre: – Há muitos anos venho no seu centro de ensino onde inúmeras pessoas buscam iluminação. Alguns alcançaram, outros parecem ter melhorado muito a vida, mas a grande maioria fica na mesma ou até piora. Não mudam. Por que o senhor não usa todo o seu poder para melhorar a todos?

- O mestre pergunta: De que cidade você vem?

– De Rajagaha, mestre

– Você deve conhecer bem o caminho para lá

– Sim, mestre, perfeitamente

– Algumas pessoas devem lhe perguntar como chegar até lá e você deve passar essa informação. Todas conseguem chegar?

– Claro que não, mestre. Só chegam aquelas que percorrem todo o caminho, até o final

– Exatamente isso. As pessoas vêm a mim perguntando sobre o caminho e eu explico claramente, só que muitas delas acham difícil, querem um atalho ou postergam indefinidamente quando vão começar a caminhar. Como elas poderiam então mudar? Melhorar? Eu não carrego ninguém, no máximo eu mostro ou aponto um caminho. O que elas vão fazer é da responsabilidade delas. Cada um precisa percorrer o caminho por si só.”

Esta parábola pode ilustrar bem o que se passa numa análise. Muitas pessoas até vão a um psicanalista e afirmam, categoricamente, o quanto querem mudar, o quanto querem melhorar na maneira que vivem. Todavia, quando percebem que essa “melhora”, essa mudança que tanto dizem querer, exige trabalho duro, muitas se decepcionam e desistem rapidamente. E ainda por cima saem falando que a análise e o analista não as ajudaram em nada. Esse enredo é, aliás, muito comum.

O número de pessoas que procuram uma análise é grande, mas poucas realmente caminham num processo analítico. Colocar-se em análise é bem mais do que apenas procurar um analista. É frequente encontrar pessoas que esperam não ter trabalho nenhum numa análise, mas que esperam algo “mágico”, algo que as absolva de ter que pensar a própria vida. São essas pessoas que nunca caminham e, por isso mesmo, não mudam.

Uma análise é um lugar onde podemos aprender a ter contato com nossa vida mental. E para que isso? Ora, quem não tem o mínimo contato com sua vida mental fica à mercê dos próprios impulsos, se repete sempre, sofre além da conta, faz escolhas que só levam a impasses, etc. Em outras palavras, ficam aprisionadas, e quem fica preso fica sempre no mesmo lugar. Aí a única coisa que resta é se lamentar.

Agora, se nos colocarmos disponíveis para nos responsabilizar pela nossa vida mental, ou seja, pensar onde nos colocamos, que escolhas fazemos, o que de fato queremos, podemos ter a chance de nos libertar e procurar outras posições na vida. Assim caminhamos e quando caminhamos vamos encontrando tantas coisas que vão surgindo que vamos mudando e, a cada passo, nos tornando outros. É fato: aquele que está caminhando já não é mais o mesmo que aquele que iniciou a caminhada.

No filme O Mágico de Oz, de 1939, a garota Dorothy e seus três companheiros (Espantalho, Homem de lata e Leão) ousam caminhar na estrada de tijolos amarelos tendo muito trabalho para enfrentar os vários perigos e situações que aparecem, mas no final da jornada descobrem que foi justamente esse caminhar que os enriqueceu e os fortaleceu. Eles não precisavam mais do mágico para satisfazer os seus desejos, mas tinham dentro de si tudo o que precisavam para ser felizes. Assim, funciona também com nossa vida.