Imagem ilustrativa da imagem Entre a verdade e a mentira
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​São muitas as pessoas que se surpreendem quando sabem que um psicanalista tem que passar pela própria análise pessoal durante um tempo considerável para poder exercer o seu trabalho de maneira eficiente. Aliás, muitos até sabem desse fato, mas não entendem propriamente ou entendem apenas de maneira racional. No entanto, um psicanalista que atende seus analisandos sem ter passado ou estar passando por sua própria análise corre riscos graves de meter os pés pelas mãos durante o atendimento ou até mesmo de prejudicar o analisando.

​Para alguém que está se afogando é preciso que quem vá salvar saiba, pelo menos, nadar bem. Não tem como outra pessoa que não sabe nadar nada pular na água e ir buscar quem está se afogando. Parece óbvio, não? Contudo, existem muitos “profissionais da saúde mental” sem saber nadar o suficiente tentando “salvar” muitos que estão se afogando. Já deu para perceber que não tem como isso acabar bem. Afinal, um cego conduzindo outro cego podem acabar, os dois, no precipício.

​Agora, até há profissionais que entendem racionalmente que precisam passar pelo próprio processo analítico para poder atender com mais propriedade, mas que ficam apenas na dimensão racional, sem de fato viver a experiência nem entendê-la. Acaba-se ficando muito teórico, sem que toda esta teoria encontre uma base para se sustentar.

​O que torna um analista mais preparado para poder fazer bem seu trabalho é a sua própria mente, o quanto ele pode se aproximar de seus conteúdos internos e lidar com eles de uma forma minimamente competente. É porque para ajudar alguém a se aproximar dos próprios conteúdos mentais requer que se saiba, por experiência própria, como se aproximar de conteúdos que são muito intensos e, muitas vezes, assustadores. Se o profissional não tem capacidade de viajar dentro de si mesmo como poderá ajudar alguém a viajar internamente para encontrar tudo aquilo que sempre causou medo e dor?

​Não ter preparo leva ao erro em que muitos profissionais confundam-se com o que é de seus analisandos ou então desejem por seus analisandos. Fica-se indiscriminado o que é do outro e daí nascem muitos mal-entendidos. Nesses casos, os dois podem se afogar.

​Dizem que uma mulher foi até Gandhi pedir que ele dissesse ao seu filho para parar de comer açúcar, já que era diabético. Gandhi pediu para ela retornar dali um mês. Ela assim o fez e quando Gandhi viu o menino pediu-lhe para parar de comer açúcar. A mãe não entendendo perguntou por que ele não havia dito isso ao menino um mês atrás e Gandhi respondeu que há um mês ele ainda comia açúcar e que para dizer para o menino parar de comer açúcar ele sentiu necessidade dele primeiro evitá-lo.

​Se um psicanalista apenas faz sermões ou profere pérolas de sabedoria está, na verdade, enganando seu analisando. É uma coisa falsa, sem verdade e sem base. Porém, quando um analista se permite empreender uma jornada dentro de si mesmo e enfrenta o que carrega ,tem muito mais recursos e base para poder conversar com seu analisando. Afinal, ele já esteve lá onde o analisando está e poderá então compreender muito mais do que se passa. Aí está a diferença entre a verdade e a mentira.

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