No mundo dos negócios se diz frequentemente uma frase: “não é nada pessoal, são apenas negócios”. Realmente, no mundo comercial e corporativo em numerosas situações existem decisões que são pautadas na economia e na razão e que não implicam nada pessoal. Escolher um fornecedor, decidir por uma compra e chegar a um bom resultado lucrativo implicam a necessidade de uma mente racional que consiga avaliar de forma eficiente os custos e benefícios. Sem essa racionalidade não há negócio que sobreviva. É interessante notar que dentro de um processo psicanalítico, entretanto, a lógica é diferente. Dentro da análise a frase seria “não são apenas negócios, é pessoal”.

O que importa na análise é a relação analista-analisando. É dentro dessa relação que a psicanálise acontece. Não se trata de um encontro ‘formal’ entre duas pessoas que realizam uma transação comercial. Nos negócios mercantis as emoções de cada um devem permanecer do lado de fora para poder haver racionalidade e lógica que levem a um bom termo. Já dentro da sala do psicanalista as emoções, sentimentos, medos, desejos e angústias ficam dentro e são bem-vindas para serem devidamente avaliadas e elaboradas e isso tudo só se dá quando a relação pessoal entre analista e analisando se desenvolve.

No dia a dia vamos nos relacionando com as pessoas a nossa volta da forma que dá. Colocamos expectativas nelas e nos nossos relacionamentos e não prestamos a devida atenção em como essas mesmas relações estão configuradas. Por isso brigamos, cobramos e há tantos mal-entendidos por aí. Uns falando mal dos outros, julgando, passando a perna ou sendo passado para trás, etc. Só que na vida cotidiana nem percebemos o quanto somos causadores e vítimas dessas pelejas emocionais e extremamente pessoais. Achamos que somos sempre racionais, mas é engano. Mesmo a pessoa mais racional possui emoções e se não souber reconhece-las acabará caindo nelas em algum momento e sofrerá.

Uma grande percepção de Freud, criador da psicanálise, foi notar que não somos tão racionais o quanto imaginamos e que estamos sendo constantemente ‘empurrados’ pela nossa vida mental inconsciente a viver das mais variadas formas. E muitas dessas formas são causadoras de grande dor e adoecimentos. A mitológica esfinge da mitologia que anuncia ao homem “Decifra-me ou te devoro” demonstra que aquele que não aprende a decifrar com certa competência a própria mente está fadado a ser devorado por ela.

Como nós podemos decifrar nossa mente? Como podemos saber mais sobre nós mesmos, sobre nossa natureza e aos conteúdos a que somos submetidos inconscientemente? Só há um jeito: travando consigo mesmo uma relação mais pessoa, mais íntima. Aí é que entra a psicanálise que propicia esse espaço para alguém vir a saber de si e não ficar ignorante do que faz consigo próprio. É justamente na relação íntima entre analista e analisando que os conteúdos internos desconhecidos podem emergir e passarem a ser conhecidos. É dentro dessa relação pessoal, mas que necessita ter todo um contexto profissional muito bem definido, que o analisando aprender a notar como vive a vida. Assim, o analisando tem a chance de não mais ser devorado pela própria mente.

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