​É muito comum pessoas se alimentarem de ressentimentos, que são mágoas que se guardam e que são constantemente sentidas repetidamente alimentando e criando o rancor que por sua vez é ódio não expresso, mas sentido. É frequente haver pessoas que vivem do rancor e fazem dele um modo de funcionamento que moldam todas as suas experiências de vida de forma desagradável.

​O ato de perdoar os outros é algo muito mal compreendido. Imagina-se que implique em ‘esquecer’ o que os outros nos fizeram, fingir que nada aconteceu e simplesmente ficar bem, como se fosse fácil assim. Quando alguém nos ofende, nos machuca e nos traz prejuízo devemos, sim, avaliar bem a situação, tomar todas as providencias necessárias bem como precauções para que não caiamos novamente em situações similares. Se houver possibilidade de conviver com quem nos machucou porque se percebe que o outro realmente mudou ótimo, se não é melhor seguir em frente e evitar o ofensor. No entanto, o que nos deixa doentes é quando ressentimos sem parar a situação desagradável que nos ocorreu, sem conseguir seguir em adiante.

​É até bíblico dizer que ‘devemos oferecer a outra face’ para quando alguém nos bate, porém isso não quer dizer oferecer a face para continuar apanhando, mas virar a face para haver agora uma outra visão, aprendermos com o acontecido e poder se livrar internamente dos ressentimentos para abrir espaço para novas experiências. Quando oferecemos essa outra face nos libertamos e vivemos também uma outra forma de olhar para a vida. Quem vira a face vê as coisas por outro ângulo e isso pode ser muito enriquecedor. Quem não vira a face continua a enxergar sempre o mesmo ponto de vista sem conseguir se libertar e toda vez que abre os olhos estará sempre vendo a mesma cena. Isso é o ressentir.

​Ressentir então é ver e vivenciar sempre a mesma cena desprazerosa que nos deixou uma marca. Em outras palavras, é uma verdadeira prisão. Infelizmente, muita gente fica tão apegada aos seus ressentimentos que acabam criando um modelo de funcionamento. Passam a se identificar tanto com o que sofreram que nunca se ‘deslocam’ disso e continuam a reviver tal situação sem parar. Obviamente, a pessoa fica envenenada e isso vai influenciando a qualidade de tudo o que ela vive. Tudo fica sob a sombra do que se aconteceu e nada novo pode realmente ser assimilado.

​Quem não conhece aquela pessoa rancorosa? Essa pessoa não nasceu assim. Um dia foi um bebezinho, foi criança, com sonhos e expectativas, mas que por alguma razão foi se intoxicando e tornando-se rancorosa. Ás vezes, não é mesmo fácil perdoar o que a vida nos deu que podem ser coisas muito difíceis e até injustas, entretanto é preciso aprender a virar a outra face.

​Perdoar não é tanto perdoar os outros em si, como muitos acreditam piamente, mas perdoar os próprios sentimentos que ficam nos envenenando e não nos permitem viver. Saber perdoar dentro de nós mesmo é um verdadeiro ato de amor e necessidade para quem quiser viver. E é preciso muito trabalho interno para realmente perdoar, não basta só dizer que perdoou e estampar um sorriso na cara. Muitos fazem isso superficialmente e não vivem de fato o que pretendem viver. Agir superficialmente é mais uma forma de continuar ressentindo.

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