Qudros do programa Caldeirão do Huck, como Lata Velha e Lar Doce Lar, que consertam carros e casas caindo aos pedaços de pessoas sem meios financeiros, têm como objetivo oferecer uma mudança para melhor. No caso, um carro que funcione e seja customizado e uma casa reformada e com móveis e eletrodomésticos novos. Enfim, a ideia é proporcionar melhores condições de vida para que as pessoas morem com mais dignidade ou tenham um carro que não seja apenas lataria inútil. No entanto, uma pesquisa feita pelos produtores desses quadros - da qual tomei conhecimento em um site de notícias - constatou que após um tempo essas mesmas pessoas beneficiadas voltaram a ter seus carros sem cuidado nenhum, alguns até vendidos para ferro velhos, e casas nos mesmos péssimos estados de antes, com móveis estragados e eletrodomésticos quebrados. Por que será que isso aconteceu? Por que tudo se repetiu quando o que havia em volta foi mudado?

Na verdade, a mudança se deu apenas externamente. Por fora foi mudado. Porém, a maneira como viviam, como se relacionavam e lidavam com a vida, permaneceu a mesma, o que levou aos mesmos resultados de antes. Não eram as casas e carros que estavam realmente precisando de transformações, mas a maneira como essas pessoas enxergam a vida. Só que essas mudanças não podem acontecer de fora para dentro. Não há programa que dê conta disso.

Se alguém não cuida da própria mente, da maneira como se coloca na vida, todas as mudanças externas de nada servirão. Muitas pessoas vivem mal, sem qualidade alguma e colocam a culpa em muitas coisas externas. Há pessoas que culpam suas famílias, seus cônjuges, seus trabalhos, o país, o vizinho, e por aí vai, por tudo o que de errado experimentam. Sentem-se vítimas e terminam com autocomiseração, ou seja, dó de si próprias. Não entendem, entretanto, que muitas vezes tudo o que não anda indo bem em suas vidas não é fruto do acaso, da má sorte e da falta de condições melhores, mas se origina na maneira como vivem e se colocam.

Claro que há pessoas vítimas de falta de condições e vítimas de toda uma série de eventos que minam muito a qualidade de vida. Só que em muitos casos não se trata disso. Não dá para jogar toda a culpa nas condições externas.

Muitas dessas pessoas que foram beneficiadas pelos programas acima tiveram algo externo mudado, mas continuaram se comportando da mesma maneira e tratando seus bens da mesma forma que antes. É claro que tudo iria voltar a ser como era. Uma casa ou um carro, para se manterem preservados, precisam de cuidados, manutenção ou se degradam. Se as pessoas não mudam a maneira como vivem, é obvio que vão se portar da mesma maneira que antes.

Uma verdadeira mudança se dá quando alguém começa a desenvolver uma consciência nova. Quando se dá conta que não dá mais para continuar de um dado jeito e que precisa buscar uma transformação. Só quando alguém se compromete de fato com a própria vida é que uma transformação ocorre. E isso é uma decisão pessoal e intransferível. Ninguém de fora pode tomar essa decisão pelo outro. A realidade em que vivemos está intimamente ligada com nossas mentes. Através de nossas mentes criamos a nossa casa, a nossa vida e o mundo. Então, é necessário, para transformar o mundo, primeiro nos transformarmos. Vale a pena refletir.