As pessoas que buscam ajuda de um psicanalista o fazem porque estão sofrendo. Ninguém busca uma análise ou processo psicoterápico porque está bem, mas justamente pelo contrário, porque está mal e com altas cargas de sofrimento mental. Em princípio, quando alguém vai para uma análise é porque não quer sofrer e sentir o que está sentindo e que não está dando conta.

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. | Foto: iStock

Nesse sofrimento que o paciente está inserido ele vive uma sensação de grande desconforto que quer ver-se livre. Essas "amarras" que os fazem sofrer o impedem de viver a vida com mais espontaneidade e tranquilidade e é natural que querem se desfazer dessas amarras o mais rápido possível. Porém, para desatar esses nós que foram criados ao longo da vida é preciso entrar num processo analítico que faz o paciente ir de encontro justamente a esses mesmos nós. Não há como escapar de se vivenciar e reconhecer sentimentos tais como ódio, desespero, depressão, perseguição e dor. Essas emoções são intensas e provocam grande turbulência emocional.

Foi justamente para não viver essas turbulências emocionais que os pacientes, em época muito precoce de suas vidas, se valeram de variados mecanismos de defesas que serviam como um ‘escudo’ para evitar entrar em contato com essas emoções. Por algum tempo essas defesas, esses escudos, podem até funcionar, mas eles também impedem a pessoa de se abrir e viver a vida. Elas ficam protegidas, mas sem acesso à vida. Não dá para uma pessoa ficar para todo o sempre dentro de um casulo protetor. A vida não tem como ser vivida e se desenvolver dentro de um casulo, por mais protetor que este seja.

Esse "casulo", "escudo", ou seja, essas defesas são nossos nós e amarras que nos impedem de prosseguir em frente, empobrecendo a qualidade de vida. Dessa forma, não nos expandimos e não nos realizamos. A consequência é que tudo isso gera um desespero e muito sofrimento porque quando sentimos que a vida não segue adiante, dentro de nós ficamos mal. Só resta, portanto, ir em frente.

Ir em frente, contudo, implica em enfrentar mares turbulentos. Travar contato com nossas verdades, com nossas emoções é algo que não se dá calmamente, mas gera muitos temores. Se vamos adentrar o mar aberto precisamos de um guia para isso para não entrarmos numa enrascada e não nos perdermos. O psicanalista pode ser esse guia, não porque ele tenha as respostas ou saiba tudo, mas porque ele mesmo, na sua própria análise pessoal, aprendeu a navegar por entre mares turbulentos com certa calma e confiança e por isso mesmo pode ajudar alguém a navegar também pelos próprios mares, reconhecendo os perigos e evitando as armadilhas.

Os alpinistas sonham em escalar o monte Everest, a mais alta montanha do mundo, mas eles não vão sozinhos, mas sempre com guias locais que já escalaram a mesma montanha muitas vezes. Fazem isso porque sabem que sem um guia apropriado poderiam perder a vida. Também precisamos de guias para lidar com nossa vida mental. Nosso mundo psíquico pode ser muito perigoso, mas se a gente nunca sair do casulo, nunca abandonar as defesas e ir em frente não vamos também crescer e expandir nossas possibilidades. Deveríamos procurar nossos analistas como procuramos nossos cirurgiões, ou seja, alguém capacitado para que todo esse processo seja feito com muito cuidado e respeito e para que o resultado seja o melhor possível. Ninguém iria, em sã consciência, colocar-se numa cirurgia com alguém inepto. Por que então colocaria a própria mente nas mãos de alguém incapacitado para lidar com coisas tão delicadas?

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A opinião do colunista não é, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina

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