Quem já teve o prazer de ir assistir a uma orquestra já deve ter percebido que conforme o público vai chegando e se acomodando os músicos ficam meio que "aquecendo" e afinando seus instrumentos antes da apresentação. São vários sons que vêm de todos os lados: os músicos experimentando seus instrumentos que são dos mais variados tipos e sons da própria plateia, e tudo junto fica um barulho, uma cacofonia, ou seja, são sons desagradáveis e nada harmônicos. Contudo, quando a audiência se acomoda e os músicos param de "testar" seus instrumentos o maestro entra, os aplausos se irrompem e após isso faz-se silêncio e tudo começa. Aquilo tudo que antes eram ruídos e barulhos transformam-se em música que encanta. Os sons ficam harmônicos, os músicos juntos com o maestro tornam-se um só, funcionando de maneira extraordinariamente integrada. Não há mais cacofonia, mas uma ressonância. O som ressoa de forma tão poderosa que nos faz sonhar e viajar. Tem o poder de nos transportar.

Responsável por controlar o ritmo, a direção e tom geral dos músicos o maestro é peça fundamental para transformar o que podia ser, inicialmente, apenas ruído em música. Sem o maestro os músicos juntos em um grupo, não poderiam tocar com equilíbrio e precisão. Cada músico individualmente é um verdadeiro profissional que executaria muitas peças musicais lindamente, mas os músicos, em grupo, sem a batuta de um maestro, acabariam cada um tocando num ritmo diferente dos demais e tudo seria uma bagunça. A presença do maestro não é fazer gestos exagerados e ser teatral, como muitos até brincam jocosamente, mas de organizar tudo de forma harmônica.

Trazendo esse modelo da orquestra para a nossa vida mental precisamos aprender a ser maestros. Dentro de nós existem os mais variados elementos, cada um no seu ritmo, fazendo o seu barulho e demandando a nossa atenção. Somos povoados por emoções e sentimentos os mais diversos e são muitas as vezes que vivenciamos dentro de nós emoções contraditórias. Nossa vida psíquica pode, em muitos momentos, ser uma verdadeira desarmonia. Ao invés de uma orquestra bem conduzida que produz encantamento podemos viver de maneira desarmônica, tropeçando e criando sofrimentos desnecessários.

Quando isso ocorre é aí que que adoecemos, que não vivemos, que metemos os pés pelas mãos. Nossa mente fica como uma orquestra que só faz barulhos dissonantes, sem conversar entre si, sem formar algo integrado. Ruídos assim dentro de nós podem ser uma tortura e desse jeito não há mesmo como viver bem.

Se dentro de nós fica confuso e caótico nossa maneira de ver o mundo e de se relacionar, também ficam prejudicadas e nossa vida fica desordenada. São nesses momentos que precisamos criar internamente um maestro, algo que comece a organizar a bagunça e a dar um tom mais unido aos elementos da nossa vida mental. Assim, podemos criar música dentro de nós e não ficar apenas na cacofonia. E que trabalheira é para esse maestro interno conseguir juntar todas as partes para ficar algo harmônico! Mas sem isso jamais vamos ressoar de maneira agradável na vida.

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