As festas de fim de ano são marcadas por um misto de celebração e tensão. Se, por um lado, evocam imagens de alegria, reencontros e conquistas, por outro, também despertam ansiedade e estresse. À medida que o calendário avança para dezembro, sentimos o peso das expectativas: listas de compras, preparativos, reuniões familiares e a necessidade de refletir sobre o que foi vivido ao longo do ano. Esse cenário, ao invés de trazer conforto, muitas vezes amplifica sentimentos de inadequação, pressão e até mesmo solidão.

O encerramento do ano carrega um simbolismo: ele nos confronta com o tempo, com as metas não atingidas, com as perdas vividas e com os desejos que ainda não se realizaram. Essas reflexões, inevitáveis nesse período, podem trazer à tona sentimentos de fracasso ou de desamparo, especialmente em uma cultura que exalta a perfeição e o sucesso como padrões universais.

Além disso, as festas de fim de ano tendem a evocar fantasias de uma convivência familiar idealizada, que raramente corresponde à realidade. Reencontros com parentes podem reabrir feridas emocionais ou escancarar conflitos não resolvidos. A convivência forçada em um contexto carregado de expectativas pode se tornar fonte de frustração e esgotamento, ampliando a sensação de desconforto.

Mas, se esse período é potencialmente gerador de estresse, ele também oferece uma oportunidade única para o crescimento emocional e a transformação. A primeira etapa para lidar de forma mais eficiente com a ansiedade das festas é reconhecer os sentimentos que elas despertam, sem negá-los ou reprimi-los. A psicanálise ensina que o acolhimento das nossas emoções, mesmo as mais difíceis, é essencial para compreender suas origens e encontrar caminhos para transformá-las.

Não é necessário atender a todas as demandas sociais ou familiares; dizer "não" pode ser um ato de autocuidado. Ao mesmo tempo, reavaliar as expectativas associadas a esse período ajuda a reduzir a pressão. Nem todos os encontros precisam ser perfeitos, nem todas as metas precisam ser cumpridas em um único ano. Permitir-se viver o momento com autenticidade, sem a busca incessante por agradar ou se encaixar, pode aliviar grande parte do peso emocional.

Outro aspecto fundamental é a capacidade de ressignificar as festas de fim de ano. Elas não precisam ser encaradas apenas como uma celebração imposta ou como um exame retrospectivo exaustivo. Podem ser, ao contrário, uma oportunidade para reconectar-se com valores e vínculos significativos.

Reservar momentos para refletir sobre o que foi aprendido e para planejar o futuro com leveza pode transformar o período em algo construtivo. Por fim, é essencial lembrar que as relações humanas, ainda que desafiadoras, são espaços de aprendizado. O convívio nas festas, mesmo com suas tensões, pode ensinar-nos sobre tolerância, resiliência e a importância de acolher a imperfeição tanto em nós quanto nos outros. É na interação com o outro, na aceitação das diferenças e na capacidade de suportar o que é difícil, que reside a verdadeira possibilidade de amadurecimento.

Assim, aceitar que nada é perfeito e muito menos nessa época do ano, nos abre caminho para uma experiência mais madura e enriquecedora, onde o stress e a tensão podem se transformar em aprendizado e crescimento.

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A opinião do colunista não é, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina