Sigmund Freud, criador da psicanálise, possuía uma vasta coleção de artefatos arqueológicos em seu consultório e o seu amor pelos estudos da arqueologia era tão intenso que ele chegou a afirmar ter lido até mais sobre arqueologia do que sobre psicologia. Seu hobby de colecionar objetos antigos fez até com que um paciente confundisse seu consultório de psicanalista com o escritório de um curador de museu. Arqueologia e psicanálise têm muito em comum.

Imagem ilustrativa da imagem Arqueologia da mente
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A arqueologia é a ciência que estuda civilizações extintas através dos vestígios que restaram delas. É quase sempre preciso uma escavação, camada por camada, para que objetos antigos sejam recuperados e, com estes mesmos objetos em mãos, pode-se inferir como era o modo de vida, o estilo e as crenças das sociedades antigas. É um trabalho complexo e que demanda paciência e extremo cuidado ao lidar com artefatos tão frágeis que correm o risco de virarem pó se forem manejados inadequadamente. E o que é a psicanálise senão uma arqueologia da mente?

Numa análise, muito do que no passado havia sido reprimido (soterrado) e dado por perdido pode ser recuperado e, com isso, podemos entender muitos dos sintomas do presente. Ao nos depararmos com o passado podemos ter mais entendimento do que nos acontece no aqui e agora e, desta forma, há a possibilidade de nos libertarmos de muitos sintomas que nos prendiam e tornavam a vida dura e desgastante. Nosso inconsciente é tal qual esta civilização extinta e que, se for “escavada”, ou seja, investigada apropriadamente, pode revelar muito sobre nós. É também um trabalho complexo e que exige muito cuidado.

Para o psicanalista, não são necessários os pinceis ou a tecnologia para manejar os artefatos antigos como eles merecem, mas o respeito e a delicadeza para com a história do outro. O psicanalista necessita da empatia para com o sofrimento que cada analisando carrega a fim de ajudá-lo a lidar melhor com a dor que sente. Esta delicadeza e respeito o psicanalista consegue quando desenvolve a própria mente, através da própria análise pessoal. Desta forma ele poderá ajudar o analisando a entrar em contato consigo mesmo.

Nas palavras do próprio Freud “o psicanalista, como o arqueólogo, deve descobrir uma camada após a outra da mente do paciente, antes de alcançar os tesouros mais profundos e valiosos.” Temos um tesouro em nossas mentes e descobri-lo nos permite viver com mais qualidade e sabor. Quando ignoramos nosso tesouro interno deixamos de nos conhecer mais intimamente e, por isso mesmo, nos enganamos mais, adoecemos mais e vivemos menos. Podemos todos ser arqueólogos de nós mesmos para desvendarmos e aprender com o passado e, a partir daí criar um futuro bem mais favorável ao crescimento de nossas vidas.