Análise e consolo são coisas bem diferentes. Imagine a seguinte imagem: um fazendeiro tem uma terra que pode ser usada para o cultivo de uma dada cultura. Ele pode chegar e jogar as sementes do que quer plantar. Isso certamente não será suficiente para que a plantação cresça forte. Então, o fazendeiro pode chegar lá na plantação e oferecer palavras de consolo à terra. Bom, a plantação não vai se desenvolver. O que ele pode é trabalhar a terra, ver o que falta de nutrientes, acertar isso ou aquilo que permita que a semente que ele plantar possa encontrar um terreno fértil para o crescimento. Em outras palavras, precisou-se buscar uma transformação que requer um trabalho sério.

Imagem ilustrativa da imagem Análise ou consolo?
| Foto: iStock

É extremamente confundido o processo da análise com o simples consolo. Muitas pessoas acreditam que os dois sejam algo como sinônimos, ou seja, com o mesmo significado. Nos dicionários consolo tem o significado de alívio, satisfação e prazer. Em algumas regiões do Brasil, por exemplo, consolo tem o mesmo sentido que chupeta, mais uma vez evidenciando que está na dimensão do prazer e alívio das angústias. Então não é à toa que muitos confundem o ato de consolar com o ato de analisar.

Numa análise espera-se que o analisando seja aliviado de suas dores, que o paciente encontre nas palavras de um analista algo que o console. Entretanto, não é isso o que ocorre, mas algo de natureza distinta e bem mais interessante. Não cabe ao psicanalista ou psicoterapeuta consolar seu paciente. Infelizmente, isso vem acontecendo com muita frequência, mas se o espaço analítico/terapêutico é usado dessa maneira fica uma distorção que transforma esse espaço, que pode ser tão rico e útil, numa coisa muito empobrecida. Esse espaço pode ser justamente aquele que permite o crescimento, a expansão e um melhor conhecimento de si mesmo. Algo que enriquece o indivíduo e o permite desenvolver seus próprios recursos para viver a vida de maneira mais eficiente e prazerosa. Já o consolo é outra coisa, bem diferente e bem mais pobre.

Quando uma pessoa está angustiada imagina-se que o que ela mais precise seja de um consolo que a alivie. Porém, isso é muito estéril, já que não leva a nenhuma transformação. Consolar pode ser útil dentro de alguns contextos, mas nunca dentro de um espaço analítico/terapêutico. Aliviar uma angústia não é o mesmo que pensá-la e elaborá-la. Esses últimos é que deveriam ser os objetivos quando alguém entra num processo analítico. Muitos pacientes começam um tratamento e rapidamente param porque, em muitos casos procuravam, na verdade, um consolo, e não um trabalho mais eficaz. Entrar em uma análise requer muito trabalho do paciente para que ele possa aprender a usar a própria mente e pensar a própria vida. Transformar-se é um processo complexo que demanda abrir mão de funcionamentos e crenças antigos para abrir espaços às elaborações novas e muito mais férteis. E alguém entrar em contato consigo mesmo é sempre algo impactante, que exige uma boa dose de coragem e força de vontade. Como se pode ver nada tem a ver com consolo, mas com trabalho duro!

A opinião do colunista não é, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina

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