Quando alguém começa um tratamento psicoterapêutico ou psicanalítico é porque geralmente está sofrendo. Há uma dor presente que atrapalha como alguém funciona, como se relaciona, como trabalha, enfim, como vive a vida. Uma pessoa assim quer se ver livre de seus sintomas o mais rápido possível e inicia seu tratamento com essa esperança.

Porém, um verdadeiro processo analítico ou psicoterapêutico não olha apenas para os sintomas com o intuito de suspende-los. Esses sintomas não são o problema em si, mas o sinal visível de que algo não vai bem. É só a pontinha do iceberg enquanto este permanece escondido da visão. Os sintomas são apenas as sirenes tocando e as luzes de alerta piscando apontando que algo, muito maior, dentro de nós, requer atenção.

Não adianta apagar as luzes de alerta ou desligar o som das sirenes e esperar que tudo fique bem sem se atentar para o que causou toda essa movimentação. Infelizmente, muitas pessoas esperam que seus analistas e psicoterapeutas apaguem o que elas estão sentindo de desagradável, que as livre imediatamente de seus sintomas e que tudo fique como se nunca tivesse existido. Só que as coisas não funcionam assim.

Isso ocorre em muitas áreas. Na acupuntura, por exemplo, uma pessoa chega com uma determinada queixa e espera que o profissional espete uma agulha num ponto específico e que tudo se resolva magicamente! Na medicina espera-se que o médico dê um remédio e o mal-estar passe. Se for uma infecção isso é até possível. Há remédios para isso, porém nem tudo se resolve dessa maneira e normalmente demanda um trabalho de investigação mais abrangente e também paciência e cooperação do paciente para que possa haver uma verdadeira mudança.

Quando alguém adoece psiquicamente não foi um vírus ou bactéria, não foi uma infecção que a pessoa contraiu, mas algo que foi se formando ao longo da vida, que foi se estruturando de uma maneira que trouxe com o tempo mais dissabor que bem-estar. Se faz necessário então olhar e investigar o que foi que aconteceu. O buraco é sempre mais embaixo, como diz o adágio popular.

Se essa investigação pode ser tolerada é possível haver um processo de análise, é permitido haver uma visão mais panorâmica da vida e de como a vivemos. Nesse processo, que é uma verdadeira jornada, mudamos como nos colocamos frente ao que nos acontece, transformamos como nos relacionamos e com isso crescemos. Já não seremos mais os mesmos de antes. Quando se trata de um sofrimento interno (psíquico) não é retirá-lo que vai adiantar de alguma coisa, mas a pessoa mudar como vem vivendo, como vem se colocando e como vem escolhendo seus caminhos. Isso não se dá de um dia para o outro.

A pessoa que procura uma análise ou psicoterapia é geralmente chamada de paciente. É chamada assim porque o processo requer paciência bem como a cooperação da pessoa para que se possa conquistar um outro olhar para a própria vida. Saber de si mesmo é o que possibilita lidarmos com nossos sintomas de uma maneira menos custosa e mais promissora. Assim, nos fortalecemos. Não são os sintomas que precisam ficar fracos, mas nós é que precisamos nos fortalecer.

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