Recentemente tivemos notícia de uma descoberta arqueológica na Alemanha. Uma espada de bronze de 3 mil anos de idade, num excelente estado de conservação, tanto que o objeto até tinha certo brilho, foi encontrada num túmulo onde estavam três pessoas. A espada era bem feita e devido ao seu peso e desenho foi observado que foi fabricada para dar golpes. Ou seja, era um instrumento real e não apenas ornamental. Um objeto com mais de 3 milênios pôde ser encontrado praticamente em perfeito estado de conservação.

Somos brindados com notícias de descobertas arqueológicas de tempos em tempos. Me lembro que algumas décadas atrás na Turquia um homem procurando suas galinhas fujonas em seu porão acabou descobrindo atrás de uma parede uma cidade subterrânea gigantesca e abandonada. Foi uma descoberta muito enriquecedora para a história.

Freud, criador da psicanálise, várias vezes comparava o estudo da mente, que é a psicanalise, à arqueologia. Aquilo que se dava como perdido ou que até mesmo nem se sabia que existia pode ser descoberto e revelar fatos importantes, que adicionam conhecimento e podem ser bem úteis. Na arqueologia, entender as civilizações passadas pode mostrar como foi se formando a cultura e sociedades atuais. Na psicanálise, entender o que ‘escondemos’ no inconsciente pode nos auxiliar compreender o que fazemos conosco e qual a qualidade de como nos ligamos à vida e aos outros.

Uma coisa interessante é que a espada da descoberta acima citada estava muito bem conservada. Pensando nessa imagem também podemos dizer que muitos ‘recursos’ dentro de nós também podem estar muito bem preservados e precisando apenas ser descobertos para poderem ser utilizados. O que está na nossa mente e que nem sabemos pode nos auxiliar muito na nossa vida atual.

Descobrir tem o sentido de ‘tirar a coberta’, ou seja, revelar o que estava encoberto, o que não se podia ver. Freud, ao criar o conceito de inconsciente, deixou também claro a nossa necessidade de ‘tornar o inconsciente, consciente’. Aquilo tudo que não sabemos de nós nos influencia de alguma maneira e pode até prejudicar como vivemos.

Muitas pessoas que iniciam seus processos analíticos duvidam que possam encontrar coisas que não sabem sobre si próprias e quando a análise vai acontecendo se surpreendem com os ‘objetos’ que estavam dentro de si. Alguns em estado precário de conservação, necessitando de muito trabalho de restauração, mas outros objetos podem ser encontrados em ótimo estado e ajudar muito na vida presente.

Assim como a arqueologia conecta o passado com o presente, a psicanálise realiza algo similar. Ela pode restaurar o que a pessoa carrega dentro de si, e que não fazia ideia do que era, com sua vida consciente, tornando o analisando muito mais apto para saber de si próprio. Quem sabe de si não fica nas mãos dos ‘acasos do destino’, mas pode ter muito mais recursos para decidir a própria vida

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