Há um vídeo francês, de uma pesquisa da década de 60, que apesar de conter partes tristes, nos mostra algo muito importante que precisamos aprender. Na pesquisa, bebês diferentes, de casas acolhedoras com pais atenciosos e bebês abandonados em abrigos para órfãos, são colocados brincando com bloquinhos de montar. As crianças são filmadas enquanto brincam e os resultados saltam aos olhos, demonstrando as diferentes formas de cada bebê se comportar.

Imagem ilustrativa da imagem A importância do ambiente que criamos
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Muitas pessoas acreditam que quase tudo é determinado geneticamente. De fato, várias das nossas características são, mas nossa personalidade não. Temos coisas que carregamos herdadas de nossa ancestralidade, mas outras são definidas pelo ambiente em nossa volta. O ambiente em que vivemos é fundamental para nos ajudar a crescer.

Os bebês do vídeo que tinham um ambiente mais amoroso e seguro sentiam-se mais confiantes, viam a vida e o mundo como possibilidades animadoras e, portanto, conseguiam brincar alegremente. Já os pequenos que não contavam com um ambiente externo incentivador e receptivo estavam sempre ansiosos, sempre alertas, olhando para todos os lados, pois viam o mundo e a vida como algo ameaçador. O perigo, para eles, estava sempre à espreita.

Além do que carregamos desde que nascemos, do ambiente que nos é dado, importa também que ambiente criamos para nós mesmos ao longo da vida, ou seja, que mente vamos desenvolvendo. Obviamente que criar nossa mente é algo que fica mais difícil dependendo do que já nos foi dado, mas mesmo assim é fundamental para vivermos bem. Será que estamos criando um ambiente interno (mente) que nos seja favorável?

Não temos controle sobre nossa genética nem dos primeiros ambientes que nos foram oferecidos, mas podemos ir buscando escolher como vamos desenvolver nossas mentes. É trabalhoso e oneroso, sem dúvida, leva tempo, mas sem fazer isso ficaremos sempre à mercê do que nos foi dado e nunca poderemos construir nossas histórias. É o que faz a diferença entre passar pela vida simplesmente ou viver de verdade.

Vejo um número muito alto de pessoas que colocam todas as suas dores, todas as suas questões em situações que lhes aconteceram. Entendo que, em alguns casos, o que aconteceu pode ter machucado tanto, de tal forma, que algo nunca poderá evoluir como se nada tivesse acontecido. Infelizmente há casos assim, mas felizmente a grande maioria das pessoas, mesmo com cicatrizes, pode se expandir e progredir de maneira promissora. Ainda bem!

O desanimador é que haja tanta gente culpando a genética e seu passado pela forma que elas são agora. Somos frutos da nossa história, mas somos também responsáveis por ela. Na vida (fora alguns casos) não importa tanto de onde nós viemos, mas importa para onde estamos indo. Em outras palavras, temos a chance de criar dentro de nós um ambiente acolhedor que nos permita viver com mais dignidade e prazer. Vai ser uma jornada árdua e espinhosa até, mas é vital desenvolver a própria mente. A vida é curta demais para apenas passarmos por ela existindo e não vivendo.

A opinião do colunista não representa, necessariamente, a da Folha de Londrina