As guerras sempre estiveram presentes na história humana. Em qualquer lugar no mundo, em qualquer época, há ou havia uma ‘guerra’ acontecendo. Os horrores gerados são assustadores e a dor imputada em incontáveis pessoas não têm como ser mensurada. A quem interessa a guerra? Há interesses políticos e financeiros, certamente. A indústria de armas é uma das mais ricas do mundo, então não dá para negar que a guerra é um “negócio” lucrativo que interessa muita gente e políticos ávidos por poder e movidos por interesses mesquinhos também têm sua parcela de responsabilidade na origem e manutenção de muitas guerras. Porém, além disso tudo há também algo de bestial no humano que faz com que a violência seja inerente à nossa mente e, portanto, ao nosso funcionamento.

A agressividade que todos nós carregamos pode ser, como diz um antigo ditado, uma faca de dois gumes. Tanto pode ser proveitosa quanto destrutiva. A agressividade é uma ‘energia’ que todos possuímos em maior ou menor medida. Ela, por si só, não pode ser considerada nem boa nem má. Quando bem utilizada pode nos fazer crescer, nos expandir e ser algo à serviço da vida. Contudo, quando utilizada de uma maneira prejudicial pode ser algo destrutivo que nos traz inúmeros prejuízos.

Sem agressividade não temos como viver. Sem ela não ‘agarramos’ nem ‘aproveitamos’ as chances que nos são apresentadas pela vida. Se um bebê recém-nascido não tiver uma certa quantidade de agressividade ele não vai sugar o peito da mãe em busca do alimento necessário para a sua sobrevivência. Não basta só a mãe ter leite e estar disponível, mas se o bebê não participar disso, não agarrar com força o que precisa, poderá estar correndo risco de vida. Um passarinho, quando chega a hora de sair do ovo, precisa também de uma quantidade de agressividade para romper a casca e nascer. Se não houvesse isso ele jamais sairia para a vida. Nesses casos a agressividade está à serviço da vida. Passa a ser uma energia que leva a um movimento pela vida. Até nas plantas vemos esse movimento de ‘agressividade’ para viver.

Ao mesmo tempo, essa agressividade também pode se dar através de outro ângulo e ela pode ser transformada em violência. Aí essa energia ganha um aspecto destrutivo e assustador e que nos coloca em perigo. Matar, subjugar, exterminar, destruir são todos movimentos que existem dentro de cada um de nós. Ninguém está livre disso. O que podemos e devemos é aprender a lidar com tudo isso que está em nós. Isso só pode ocorrer se olharmos para a nossa vida mental e nos deparar com todos os elementos que ela contém. Não adianta apenas ‘clamar’ por paz, mas enquanto não houver paz interna, dentro de nossas mentes, não haverá a menor chance de haver paz lá fora.

Freud, criador da psicanálise, em seu famoso artigo: O Mal-estar na Civilização, discorre de maneira exemplar sobre a violência que existe dentro de nós. Seu texto é atual mesmo tendo sendo escrito há quase um século. O autor nos alertou que podemos, se não houver cuidado, nos extinguir e hoje sabemos que não nos falta tecnologia suficiente para destruir o planeta. A verdade é que podemos destruir, sim, toda a vida existente e isso é apavorante. Mais do que nunca temos a obrigação de olhar para dentro para aprender a lidar com as bestas que todos nós carregamos internamente. Não só pode ser benéfico para a vida individual de cada um como também ser algo muito vantajoso para toda a civilização.

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