Depois de um longo período em que, impotentes, choramos a perda de entes queridos e em que, aliada ao luto, nossa indignação adensou-se e nossa humanidade se expandiu e gerou flores e frutos, quedamos ainda perplexos. Mal nos recuperamos do massacre e já falamos em recomeço e volta à normalidade. Compreensível. Não temos tempo de refletir e ansiamos apenas seguir em frente, embora não tenhamos a mais vaga ideia do que nos espera.

Não me arrisco a dizer o que virá, não sou profeta. Ademais, 2022 se afigura como um enigma difícil. Todavia, se num exercício de forçosa imaginação me obrigasse a concebê-lo, diria que será um ano duríssimo, um daqueles que só queremos que acabe depressa. Rezo a cada manhã e a cada noite para que meu reles palpite esteja errado. Mas os dados da realidade indicam que é improvável que esteja.

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. | Foto: Juliana Boligian/ Acervo pessoal

A meu ver, nós, os sobreviventes, incorreremos em grave erro se não aprendermos com tudo o que nos sobreveio nos últimos 3 anos. Para além da fatalidade da pandemia, evento que fustigou o mundo todo, fomos e ainda somos duramente castigados por um governo sem metas e planos, guiado apenas por interesses classistas suspeitos, desmontes institucionais e jogadas baixas com fins puramente eleitoreiros.

Triste ver um país grande e valoroso como este arrastado por uma crise sem precedentes (bem mais por questões internas e erros grosseiros de condução ética e sanitária do que por qualquer outro fator externo), a mercê do que já pode ser considerado um dos maiores desastres políticos da história da república.

Fácil prever que as campanhas de 22 irão pautar-se por um vale-tudo ferozmente acirrado, capaz de rebaixar a polarização ideológica a patamares ainda mais contra-producentes e perigosos. Lamentável, pois seria a hora de abrir o jogo e elevar o nível do debate. Mas, no atual contexto, crer em tal possibilidade chega a ser ridiculamente ingênuo!

Um ano antes do pleito, há já quem diga que estamos sem escolhas. Admito que não será fácil votar nas próximas eleições, o que aliás nunca foi, ao menos para mim. Será um duríssimo teste para a democracia brasileira. Nessa confusão, apenas uma coisa parece clara: se insistirmos no erro, ficaremos num beco sem saída. Mal consigo imaginar o que será deste país se passar mais quatro anos sob o comando do atual presidente.

A mim parece menos uma questão de escolha (embora seja!) do que de pura e simples sobrevivência! Sobrevivemos até aqui, apesar de um vírus que nos devastou com mais de seiscentas mil vidas perdidas em pouco mais de um ano e meio. Hoje me pergunto quantas vidas seriam poupadas se o negacionismo, a incompetência administrativa e o injustificado atraso nas negociações para a compra de vacinas não tivessem ocorrido.

Nessas alturas, pouco importa quem votou em quem, mas apenas em quem não votar. Pense bem, portanto, antes de apertar os botões.