Já disse aqui, em minha primeira crônica, que sempre quis ser colunista. Mas não é fácil. É preciso muita opinião, descobrir opiniões, por vezes inventá-las. Amigo meu dizia, a título de sacanagem, que tinha pós-doutorado em Harvard “para não ter opinião”. “Haja teses para não ter opinião”, dizia, ostentando o reles paradoxo.

O fato é que todos as temos. E as exibimos aos ventos. Temos paixão por opiniões: pelas nossas, pelas alheias, pelas belas, pelas feias, pelas polêmicas, anêmicas… por toda e qualquer perspectiva que nos afaste da nulidade que nos assedia dia a dia.

Outro amigo bradava: “Antes ter opinião do que se fazer de besta.” Eu replicava: “Às vezes, é grande alívio não ter opinião.” “Sim”, ralhava ele, “mas aí aguente firme o tranco!” Nunca tive que aguentar nada. Aturei foi cara feia. Mas cara feia pra mim é barriga cheia. Quem tem “fome”, trabalha. E trabalhar é melhor que exibir opiniões. Trabalhar, aliás, é uma linda opinião.

Muita opinião obscurece a visão. Eventualmente, tê-las é inevitável. Mas exibi-las me parece decididamente indecente. Houve já quem dissesse: “Quem acerta o alvo, perde o resto”. Mas nesse fajuto novo século há os que nos exigem um posicionamento sob a pena de perdermos a alma. Compreensível. Me exasperava, quando era pequeno meu filho, que ficasse indeciso entre guaraná e coca-cola. Hoje, ao que parece, o rapaz sabe bem o que quer. Ou talvez saiba, pois a cada dia mudam seus posicionamentos. Recentemente, virou-se com essa: “Pai, a Terra gira a 107 mil quilômetros por hora em torno do Sol!” Disse “pois é, filho, mas a gente se movimenta bem pouco sobre ela”.

Há também os que bem escondem suas opiniões, e não por covardia, mas talvez por ainda não tê-las cultivado o bastante. Nada mais pífio que uma opinião hesitante.

Se não me agrada tanta opinião, ainda mais dar conselhos. Mas hoje abro uma exceção. Conselho: não se incomode por eventualmente não ter opinião ou não poder ou não querer tê-las. Seja a metamorfose constante, seja um seixo, que rola e não embolora. Em tempos de estúpidas polarizações e ansiedades digitais massacrantes, peixe vivo é o que não entrega sua opinião precipitadamente a qualquer incauto.

Além do mais, nem todos precisam de opinião. Digo, da sua opinião. As minhas? Sempre achei que não fariam a menor diferença. Para chegar ao ponto de achar que minha opinião pode fazer alguma diferença ou convencer alguém de algo, haja estrada! Haja sapiência, prudência, experiência, e não somente boas experiências. A boa opinião, se é que existe, deriva de um conjunto de boas, não tão boas e péssimas experiências; não é possível compreender algo ou alguém sem ter cometido erros. O erro é uma dádiva. E o bom conselho, se é que existe, pode lhe impedir de errar, o que, convenhamos, não tem a menor graça.