Nunca estivemos tão presentes e atuantes na internet, lugar onde tudo acontece nesse “deserto do real” por que estamos passando. Difícil imaginar o que seria de nós se, isolados há mais de um ano, não pudéssemos contar com tal tecnologia. Seria o caos consumado em condições normais, que dirá nessa longa quarentena. O mundo travaria de vez. Talvez irreversivelmente.

Na web você se comunica, trabalha, se instrui, se informa, se encontra, se diverte, se alimenta, compra, vende, pesquisa, se expressa, divulga… Tudo com acessibilidade, autonomia e ferramentas para todos os fins. E já não se faz necessário nem um computador; basta um celular, aparelho hoje acessível a mais de 5 dos 7,7 bilhões de habitantes do planeta.

A chamada “internet de todas as coisas” deixou de ser um conceito e tornou-se uma realidade estrutural. Sem ela estaríamos condenados a um isolamento dramático, de consequências deletérias. Às vezes tenho a impressão de que a esfera virtual foi inventada para nos ajudar a atravessar essa delicada fase do mundo e de nossas vidas.

Mas nem tudo são rosas na “matrix” em que nos agarramos para nos mantermos conectados ao mundo. Um amigo me disse: “Saio nas ruas… vazias, nada acontece. Entro na internet… bombada, tudo acontecendo ao mesmo tempo. Não é absurdo?” Apenas lembrei-o de que estava me dizendo isso num encontro pelo zoom meeting. Ele objetou: “Preferiria lhe dizer na rua, num boteco, celebrando alguma coisa, tomando aquela gelada.”

Sim, a falta que sentimos do contato presencial é profunda e dolorosa. O mesmo amigo, com seu peculiar senso de humor, observou: “Você esquece que somos mamíferos? Gostamos de nos esfregar uns nos outros, de se lamber, de sentir o cheiro, trocar secreções. Estamos sendo privados de coisas elementares demais. Isso não vai acabar bem.” Disse a ele que se vai acabar bem ou não é impossível saber, mas que vai acabar, pode contar que vai. Ele emendou: “Vai passar… Estou ouvindo esse bordão desde a metade do ano passado.”

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. | Foto: iStock

Mas a grande privação causada pela pandemia a um número cada vez maior de pessoas - algo bem mais elementar do que a necessidade de contato físico - é a fome. Pesquisas realizadas entre outubro e dezembro de 2020 atestam que mais de 116 milhões de brasileiros conviveram com algum grau de insegurança alimentar no período. Atualmente, são 19 milhões de pessoas sem qualquer condição de comer.

Sintomático notar que do ano passado para este o volume de doações caiu consideravelmente, o que indica que grande parte dos doadores é de gente com poucos recursos, justo os que neste momento se acham em deploráveis condições financeiras. De outro lado, chega a ser constrangedor saber que no último ano surgiram mais 20 bilionários no Brasil, a maioria especuladores que se fartam em comprar ações na baixa para revender na alta, jogo fácil de fazer para quem tem grandes reservas e num momento de instabilidade tão acentuada do mercado financeiro.

Frente a esse panorama, o melhor que podemos fazer pela internet são doações. Especialmente nesse momento em que os que têm o bom hábito de doar já não contam com recursos para isso, enquanto o “mercado” parece indiferente à tragédia.

Sejamos solidários. A meu ver não há melhor maneira de afirmar nossa cidadania no olho do furacão dessa pandemia.

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