Hoje todos querem ocupar o palco. Todos têm seus shows encenados a toda hora, em qualquer lugar, de todas as maneiras: um drama por dia, uma comédia por hora, uma farsa por minuto, uma farra por segundo…

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. | Foto: IStock

Os atores estão apinhados no palco, gritando ao mesmo tempo para uma plateia vazia. A plateia virou um vácuo ou, antes, fundiu-se com o palco. E se você disser que não, que ainda existem muitos na plateia, direi sim, por certo, mas esses já não se interessam de fato pelo que veem. Se cada um é um show, como alguém pode se interessar, por mais que alguns segundos, pelo que vê? E você vai insistir “claro que pode, é só escolher um e curtir.” E eu vou dizer que o possível show pelo qual um possível cativo da plateia possa vir a se interessar não terá chances, pois daqui a pouco nosso hipotético espectador ficará entediado e vai querer ver algo novo, uma novidade, depois outra e assim vai.

O critério é a novidade. Não importa o que você faça ou o “valor” do que você seja capaz de fazer, o que importa nada tem a ver com isso. E de novidade em novidade, tudo envelhece depressa: atores, plateia, shows… Os cativos da plateia perdem o interesse, passam de um show a outro sem parar e os atores amontoados no palco começam a apelar para todo tipo de expediente capaz de chamar a atenção.

Como exemplo: recentemente inventaram uma coisa intitulada “anti-poesia”. Poetas escrevem poemas que não são exatamente poemas, pois já não se enquadram no conceito de poesia etc. E me pergunto: se não querem compor poemas, por que não compõem outra coisa? A atitude negadora, antes profícua na vida e na arte, virou uma negação infantil, um esperneio sem propósito, típico dos que já não acham saídas.

Outro exemplo curioso: um sujeito que nunca vi e com quem jamais tive qualquer contato me envia um link com a seguinte mensagem: “Episódios interessantes da minha vida! Sabia que no ataque de 11 de setembro eu, fulano de tal, estava lá?” E me pergunto: e eu com isso?! Quem se interessaria senão seus amigos e familiares? E nesse caso, pra que enviar o link ao meu celular? Sim, porque a mensagem foi enviada não a mim, eis o mais estranho. A mim já não restam dúvidas: vivemos a flor da decadência, presos numa arena em que vale tudo, tudo se equivale e reina a futilidade.

Nesse rush interminável, impossível saber quem está te ouvindo. Mais provável que ninguém esteja te ouvindo, por interessante que seja o que quer que tenhas a contar ou cantar ou protestar, tanto faz. Não tarda a chegar o tempo em que cada qual fará seu show particular a apenas um espectador, super conectado.

Em meio a diluição cultural da hiper dominância digital, toda mensagem soa provisória, a pressa é grande, os encontros não-virtuais escasseiam e o jogo segue instável. A meu ver, o grande desafio imposto as artes presenciais passa por uma profunda reinvenção. Ouço muito por aí: “Nada substitui o contato direto com a arte e os artistas”. Sim, mas para tanto é preciso reconquistar o status de “insubstituível” com novos modelos de abordagem, capazes de tocar e desafiar a sensibilidade e o espírito humanos.