Confesso que nesse momento - talvez o mais difícil de nossas vidas, de nosso país, do nosso mundo - ter o que dizer vem sendo uma missão cada dia mais espinhosa. Mudar de assunto me parece um acinte frente a tragédia que estamos vivendo. Manter-se indiferente ou simular indiferença ao que acontece, aos absurdos diários que nos assaltam, como uma medida terapêutica, para nos pouparmos de tanto estresse e conseguirmos manter a sanidade e o equilíbrio, pode parecer o mais sensato a fazer. Não para mim, em todo o caso. De modo que versar sobre o colapso que se aproxima como uma ameaça de consequências imprevisíveis e deletérias é a única coisa que me sinto compelido a fazer agora.

Mas ao invés de discorrer sobre o que todos já sabem (ao menos os que se informam com alguma decência), gostaria de usar esse espaço para tentar fazer uma reflexão.

Se isso tudo está nos acometendo tão severamente, não deveríamos perder a oportunidade de, no mínimo, refletir a respeito. Sócrates dizia que “uma vida não refletida não vale a pena ser vivida”, e ele tinha razão, a meu ver. Se um problema nos advém e se torna cada vez mais grave, certamente não é apenas por uma fatalidade, mas porque não soubemos encará-lo com a devida prudência. E prudência não só em relação as próprias necessidades, mas também (e, nesse momento, acima de tudo) em relação aos demais.

Acontece que prudência em relação aos outros requer uma qualidade imprescindível que usamos chamar de “empatia”. Para quem nunca sequer pronunciou essa palavra talvez seja preciso esclarecer que empatia é um processo de identificação em que o indivíduo se coloca no lugar do outro e tenta compreender o sofrimento e o comportamento do outro. Claro que isso não é uma qualidade inerente aos seres humanos. Muitas pessoas são inteiramente incapazes de sentir empatia. Por quê? Talvez por incapacidade nata, talvez por simplesmente não se importarem. Os motivos pouco acrescentam a esta reflexão, muito embora sejam relevantes.

O fato central é que um cidadão sem qualquer dinâmica empática não pode (ou não deveria) exercer o cargo de liderança de uma nação. Sobretudo porque, como bem disse Frei Betto, “o Brasil não construiu cidadania, não reconhece a existência do outro. […] Perdemos a empatia. O sofrimento dos outros não dói em nós.” Agora faça as contas: num país continental como o nosso, onde a cidadania e suas implicações éticas sequer vigoram, é de fato uma temeridade termos um governante sem qualquer traço mínimo de empatia. O que sobra é descaso e crueldade, índices flagrantes de fraqueza de caráter.

O que nos resta fazer além de cuidar de nós mesmos e dos outros do melhor modo possível e de rezar com fervor? O que me conforta é que, segundo um antigo ditado, há três coisas que não se pode esconder por muito tempo: o sol, a lua e a verdade.

Boa semana a todos, na medida do possível.