Imagem ilustrativa da imagem O CÉU DESSA CIDADE
| Foto: Anderson Coelho/ 17/05/2018

Escrevo há quase um ano essa coluna e até agora não me detive a falar sobre Londrina. São tantos assuntos ditos urgentes que acabamos por deixar de lado os essenciais. Sim, o mundo anda terrivelmente enfadonho, e para versar sobre suas contradições é necessário, além de vasta cultura e vivência, profunda paciência. Não é para qualquer um. E como, em verdade, não me considero mais que qualquer um, decidi me dar ao luxo de falar sobre meu caso de amor com essa cidade.

Nos idos de 1982 desembarquei aqui, na rodoviária que hoje é um nobre patrimônio histórico da cidade. Vim prestar vestibular para comunicação social na UEL. Ao pisar no Calçadão, onde me hospedei no hotel que ficava na esquina com a avenida São Paulo, logo me perguntei, entre pasmo e perplexo: “Que eletricidade é essa?” Aqueles estudantes, vindos de todo o país para o vestibular, acrescidos à população local, descendentes de diversas partes do mundo, fazia aquele cenário parecer uma espécie de sonho. Esse tipo de sensação só havia tido, até então, em cidades muito populosas, que naturalmente juntam gentes de culturas diversas no mesmo lugar e geram uma vibração extraordinariamente singular. Mas jamais imaginei que pudesse encontrar, numa cidade à época com pouco mais de 250 mil habitantes, uma atmosfera tão pouco provinciana (há quem discorde de mim, mas posso conviver bem com isso).

O fato é que vivi, estudei e trabalhei aqui até 1994. De lá para cá estive poucas vezes em Londrina, mas nunca deixou de me impressionar a velocidade com que a cidade cresce sem parar. Basta considerar que hoje, de acordo com o censo mais recente (2020), são mais de 575 mil pessoas vivendo nessa terra, bem mais que o dobro de quando desembarquei na antiga rodoviária.

Há exatamente um ano atrás, num momento crítico da pandemia em que ninguém sabia o que seria de nós (não que agora saibamos), voltei a morar em Londrina. Tenho sólidas razões pessoais para tanto: família, amigos e um pedacinho de terra em Guaravera. Meu único filho, Gabriel, também veio de São Paulo para estudar aqui e já está devidamente formado, casado e domiciliado na cidade. E, claro, trabalhando sem parar, com a benção de todos os santos.

Quanto a mim, não perdi o bom hábito de andar por essas ruas, admirando o traçado geométrico da cidade, sua frenética agitação cosmopolita (há quem discorde de mim quanto ao “cosmopolita”, mas posso conviver bem com isso) e ainda assombrado com o azul-laranja-púrpura desse céu que parece mais alto e claro que os outros. E também saudoso desse friozinho e da lua que figura gigante no horizonte só para nos fazer admirá-la uma vez mais.

Obrigado, Londrina! Sinto-me protegido sob este céu que nos encanta.

* A coluna de Adriano Garib voltará a ser publicada em agosto. O colunista está em férias.

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