Escrevo do Rio de Janeiro, onde estou a trabalho, hospedado em Copacabana, esse “clássico caos” onde a pandemia é apenas uma formalidade. Dia desses vi num boteco, de dentro de um uber, uma grande aglomeração de torcedores, todos devidamente desmascarados.

Claro que isso não é novidade, menos ainda exclusividade carioca. Apesar dos alertas, por todo Brasil festas estão bombando e a vida segue seu curso como se já não registrássemos, há mais de 30 dias, a média diária de mais de mil vidas perdidas.

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. | Foto: iStock

Tem sido assim em todo lugar do planeta, com mais ou menos implicações dramáticas e raras exceções nos países que se planejaram com seriedade. Impossível parar esse trem, nem uma tragédia com centenas de milhares de mortos é capaz de desacelerar o mundo. Estimativas de óbito não nos afetam, o que diz muito sobre nós. Descemos ladeira abaixo, esbanjando cegueira e com poucas chances a nosso favor. Ainda assim descemos a toda velocidade, pois não há tempo para nada: não há tempo para pensar e ponderar, para olhar para o lado, para refazer caminhos, não há tempo para se dar tempo… Quem ganha muito quer ganhar mais e mais, quem ganha pouco precisa trabalhar. A roda gira sem parar e, agarrados a ela, giramos sem saber o que nos aguarda. Tudo isso no mesmo caldeirão gera enormes medos coletivos, o que acarreta problemas incontornáveis.

O governo federal já deu provas mais que consistentes de que não tem competência para gerir a crise e de que não se importa o quanto deveria com a saúde pública. Ficamos por conta de nossos governadores e prefeitos que, cientes disso, estão fazendo o possível para reduzir danos. Mas será o bastante?

Enquanto não houver um planejamento sério (e não somente lockdowns eventuais) para, de algum modo, diminuir a circulação, a calamidade tende a se alastrar e a tornar-se incontrolável. Portanto, se você tem alguma preocupação com sua saúde e com a saúde pública, deve triplicar os cuidados. O vírus é quem mais curte festas e aglomerações, há mutações à vista, faltam vacinas e UTIs nas redes públicas e privadas e os vacinados não passam de 3% da população.

Cuide, de você e dos demais. O bicho tá pegando.