Satisfação imensa ver dois jornalistas independentes receberem o Nobel da Paz. Com o festival de notícias falsas e manipuladas na internet, as constantes humilhações e injúrias que tantos profissionais da área vêm sofrendo e o monstruoso e crescente extermínio de jornalistas, - ações capitaneadas pelos representantes da ultra-direita que grassa mundo afora, tanto em países sem tradição democrática quanto nos “democráticos” - nada mais justo e providencial.

O prêmio Nobel da Paz 2021 foi concedido, na última sexta-feira (8), a filipina Maria Ressa e ao russo Dmitry Muratov, ambos jornalistas independentes. Ressa é co-fundadora e diretora-executiva da Rappler, empresa de mídia digital de jornalismo investigativo nas Filipinas que denuncia o abuso de poder, o uso da truculência (sobretudo contra jornalistas) e o autoritarismo em ascensão em seu país. Muratov é editor-chefe do jornal investigativo Novaya Gazeta, que desafiou o Kremlin, sob a mão de ferro de Vladimir Putin, com investigações sobre irregularidades e corrupção no governo e uma cobertura notável do conflito na Ucrânia. Detalhe: o jornal já teve seis jornalistas assassinados. E ainda há quem diga, nos cercadinhos daqui, que os jornalistas “são todos uns mentirosos”. Cedo ou tarde a história dirá quem são os mentirosos. Espero que cedo.

Por aqui a imprensa investigativa - tanto a independente quanta a privada - vem sendo responsável por graves denúncias dos descaminhos e descalabros do atual governo. Órgãos como o Ministério Público Federal e a Procuradoria Geral da República, bem como o próprio STF, colocam em andamento inquéritos que, se devidamente apurados, deverão pôr abaixo a farsa bem blindada de governantes que ousam acusar precisamente o que mais prezam fazer no escuro dos bastidores: trapacear. Boa parte das investigações oficiais ganhou força justamente devido aos indícios e revelações de um jornalismo comprometido com a lisura e justeza dos fatos.

A bomba mais recente, apurada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, revelou ao mundo, através dos “Pandora Papers” (que reúne mais de 600 profissionais em 117 países), documentos que comprovam que o Ministro da Fazenda, Paulo Guedes, e o Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, os dois homens mais poderosos da gestão econômica brasileira, criaram empresas em paraísos fiscais e nunca informaram a esse respeito a esfera legislativa e a opinião pública, apesar da relevância de seus cargos.

Para muitos isso é apenas um fato, sem qualquer implicação moral ou ilegal. Mas o que a notícia revela é assombroso: como pode o Ministro da Fazenda e o Presidente do BC, que deveriam cuidar da saúde econômica do país, investirem boa parte de seus recursos no exterior, enquanto a inflação, o desemprego e a fome levam à miséria milhões de brasileiros?

Os fatos aí estão, e a justiça humana se encarregará de julgá-los. Devo dizer, com toda a humildade, que me orgulho de ser jornalista. Parabéns a todos os profissionais da área comprometidos com a dignidade humana e a integridade dos acontecimentos. Devemos muito a vocês e somos gratos!

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