O podcast está mudando a forma como consumimos informação e entretenimento. Para melhor. O formato permite que façamos outras coisas enquanto ouvimos o conteúdo de nossa preferência. Podemos pausar o programa e voltar a ouvi-lo. É um upgrade do rádio, com uma extraordinária diversificação de assuntos e aproximações, tanto para geradores de conteúdo e anunciantes quanto para os consumidores.

A linguagem do podcast articula palavra-falada, música e desenho de som. Seu antecessor é o rádio, mas existem diferenças fundamentais. Broadcast (rádio) é a transmissão de um para muitos, um modo que requer certa formalidade; é preciso rigor, clareza e boa voz para informar os ouvintes com credibilidade. Já o podcast (o pod vem de personal on demand) é a transmissão de um para um. Como todo conteúdo sob demanda, o formato é consumido individualmente. Essa escuta individual abre caminhos para novos modos de contato entre emissor e receptor: naturalidade e personalidade tem mais importância do que formalidade. No podcast o narrador se comunica diretamente com o ouvinte ao pé do ouvido, não como o portador de uma informação, mas como um contador de histórias.

Imagem ilustrativa da imagem Conversa de elefantes
| Foto: Adriano Garib

Nos últimos anos a oferta de bons podcasts explodiu na web, também por causa das plataformas agregadoras, onde podemos encontrar uma gama gigante de opções. E o fato de conseguirmos acessar facilmente de nossos celulares ajudou a fazer do formato uma preferência entre os usuários.

Por fim, como dita o mundo streaming on-demand, cada qual escolhe o assunto que quer ouvir, sem precisar ficar baixando conteúdos e sem se obrigar a engolir o que não quer. A liberdade é assustadoramente grande. O que quer que seja do seu interesse é possível encontrar em algum bom podcast. E se não achar, trate de produzir o seu sobre o tópico não encontrado; provavelmente vai descobrir que muitas pessoas ao redor do mundo se interessam pelo mesmo assunto que você. É esse o grande pulo do gato do formato, capaz de comportar qualquer conversa, por mais específica ou “difícil” que seja.

Dito isso, quero indicar minha mais recente descoberta na selva de podcasts por onde ando vadiando. Refiro-me ao “Elefantes na Neblina”, disponível no Spotify. O programa, já em sua 28ª edição, é produzido por três anônimos que adoram conversar sobre assuntos cabeça super contemporâneos, sobretudo se relacionados aos efeitos-pandemia em nossos comportamentos urbanos. A regularidade é imprevisível: semanal, quinzenal, diária, pouco importa. O importante, mais do que a identidade de seus animadores ou a frequência do programa, é o conteúdo das conversas. Os três rapazes (codinomes Larry Go, Larry Be e Larry Snow) fazem questão de afirmar seus anonimatos com um slogan provocador: “Somos ninguém. Assim podemos ser todos.”

Se você, como eu, anda inquieto com a aurora desses novos tempos, onde a incerteza dá as cartas e temos necessariamente que nos reinventar para sobreviver, trate de se antenar nessa conversa de elefantes. Eles estão na neblina, mas em movimento, em busca de sentidos e significados.