Deu o que falar a entrevista com o humorista Marcelo Adnet no “Roda Viva”. Foi um dos assuntos mais comentados nas redes sociais, marcando o terceiro lugar nos trending topics do Twitter Brasil na noite de segunda-feira passada.

Ao se assumir como um cidadão de esquerda, argumentando que ser a favor de políticas públicas e da presença do Estado como mediador é fundamental num país com desigualdades sociais tão gritantes, Adnet foi interpelado por outro Marcelo, o Tas, um dos jornalistas da roda. Tas fez a seguinte objeção à declaração do entrevistado: “Você nunca reparou que por exemplo em Cuba não existe humorista? Acho muito perigoso a gente, como pessoas que trabalham com humor, tomar partido, especialmente quando o humor é censurado”.

Adnet mostrou-se constrangido com a pergunta e quis saber qual era o ponto. Tas tentou esclarecer que apesar de reconhecer o direito do colega de assumir publicamente seu posicionamento político, isso pode comprometer sua independência e seu poder crítico como humorista. Aproveitou para se queixar do que considera o tom arrogante do discurso padrão da esquerda brasileira, pois, segundo ele, isso “encerra a conversa” ao invés de abrir diálogos.

Adnet reconheceu a eventual dificuldade das esquerdas de se comunicar, devido ao que chamou de “academicismo”, mas fez questão de ir além da conversa reducionista - muito em voga - que teima em considerar toda esquerda comunista, todo comunista autoritário, todo progressista petista e toda posição política partidária. E nessas alturas o programa - tão inteligente, leve e divertido por conta da presença do gênio de Adnet e de alguns que o rodeavam - tornou-se menos interessante; não por ter entrado na seara política, mas por, mais uma vez, ter abordado o assunto de modo superficial e lamentavelmente contaminado por uma desgastada polarização, responsável pelo embrutecimento de boa parte do espectro político e do eleitorado do país.

Falemos o português claro: faz tempo que já não se trata de esquerda ou direita. O escritor Antonio Prata, presença marcante na roda, matou a charada: “Eu acho que o que tá em jogo não é tanto entre esquerda e direita, mas entre civilização e barbárie, entre estado de direito e milícia. O campo progressista tá levando uma surra da barbárie. Quem tá defendendo a democracia no Brasil tá tomando uma surra diária. Tá tomando uma surra na internet, na comunicação, no Datafolha… As chamas da Amazônia também são essa surra; negros assassinados também são essa surra. Como é que a gente sai das cordas? Como é que a gente fala pra mais gente?”.

Prata, você vale ouro.