Aqui ou em qualquer lugar do mundo, todos querem trabalhar e sustentar suas famílias. Querem paz, sossego e alguma diversão. E é isso.

Mas, assim parece, estamos em plena era do vamos-partir-pro-pau-pois-outro-modo-não-há. Se de fato chegamos a tal grau de divergência (relativa, a meu ver, a “modos de vida” e a “modos de perspectivação da vida”), o diálogo, o debate e a discussão de ideias tendem a entrar em declínio. Nesse arruinado cenário, argumentar regride à condição de norma inútil, isso em plena aurora do “século da informação”! A continuar assim, em breve estaremos surdos aos rudimentos mais básicos do bom-senso.

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. | Foto: Adriano Garib/ Divulgação

O que resta quando a credibilidade de um bom argumento já não basta e os ouvidos se fecham? Numa palavra? Barbárie. E se, para mais entornar o caldo, instala-se um ambiente de aguda polarização ética e moral, cresce a ameaça.

Perfeitamente possível partir pro pau, pegar em armas, barbarizar (registros históricos de todas as épocas atestam isso), mas fato é que ninguém anseia, em sã consciência, pelejar. A menos que haja uma poderosa motivação ou insatisfação, ninguém quer se expor aos perigos de um conflito violento. E ainda que os discursos sejam odiosos, há uma enorme distância entre intenção e ação quando o assunto é partir pro pau. Ninguém quer pôr a própria vida (e a dos seus) em risco por qualquer razão. A nosso favor contam o santo medo e a possível sanidade. E, claro, a esperança e o coração. E, sempre, a razão, ainda que essa nobre senhora tenha se tornado uma não tão digna indigente num mundo de axiomas fajutos.

Sequência clássica do filmaço “Clube da luta” é a que o líder propõe: “Essa semana, vocês têm uma lição de casa. Vocês vão pra rua e vão arranjar uma briga com um estranho.” E o que o filme vai mostrar é que, via de regra, as pessoas fazem de tudo para evitar um confronto. Pagam para não entrar e mais ainda para sair de uma briga.

Temos, apesar disso, motivos de sobra para temer. Mas não tema mais que o necessário. Ser brutal nas redes sociais - onde o que mais se vê são “convictos” anúncios de supostas ameaças, muitas vezes anônimas - está há milhas de distância de atitudes efetivamente beligerantes.

O mais irônico é constatar que se um ““líder”” (assim mesmo, entre aspas duplas) promete armar os cidadãos, está metendo os pés pelas mãos, pois, a depender do contexto, cidadãos armados podem perfeitamente voltar-se contra ele. As estatísticas abundam: mais armas, mais fogo.

Resta-nos manter os ânimos equilibrados e pensar bem antes de perder a paciência ou achar-se - sacrossanta ingenuidade! - “senhor da razão”. A nobre indigente “razão” não tolera quem se considera seu senhor. O que não nos impede de (ao menos tentar) ser arrazoados.

Como últimas palavras, cito o bordão-meme que viralizou na última semana, alusivo a letra de uma canção de Caetano: ONDE QUERES FUZIL EU SOU FEIJÃO.