É claro que me refiro ao YouTube, plataforma fundada em 2005 por três jovens funcionários do site PayPal, no Vale do Silício, Califórnia: Chad Hurley, Steven Chen e Jawed Karim. O portal foi registrado em vários países no dia dos namorados, originalmente destinado a “postagens românticas”. O primeiro post, intitulado “Eu no zoológico”, é um vídeo nada romântico de 18 segundos em que Karim aparece dizendo: “Bem, estamos aqui, em frente aos elefantes. O legal desses caras é que eles têm trombas muito, muito, muito grandes. Isso é legal. E é basicamente o que eu tenho a dizer.”

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Pouco tempo depois os rapazes já não duvidavam que haviam fracassado. Mas aí notaram que tinham em mãos uma ideia promissora, pois na época publicar vídeos caseiros na internet perfazia um nicho que começava a crescer. O trio decidiu acabar com o caráter romântico do negócio e aceitar qualquer tipo de vídeo no portal. Um ano depois a plataforma atraiu mais de 65.000 novos uploads e atingiu a marca de 100 milhões de visualizações por dia. Resultado: a startup foi adquirida pela gigante Google por US$ 1,65 bilhão, na ocasião o equivalente a R$ 3,55 bilhões.

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. | Foto: iStock

Hoje o YouTube recebe, em média, 400 horas de vídeo por minuto. A plataforma potencializou o alcance dos anúncios de grandes marcas e permitiu a muita gente ganhar a vida produzindo vídeos. Esse enorme potencial de monetização mobilizou os criadores de conteúdo a criar vídeos de todo tipo e hospedá-los no portal, o que levou o YouTube a tornar-se o segundo site com maior tráfego e a segunda maior ferramenta de busca do mundo, atrás apenas do Google.

Contudo, é muito fácil se perder nesse labirinto. Para quem não sabe direito o que procura a plataforma pode ser uma armadilha. Isto porque quando o usuário clica num vídeo, ao lado recebe uma série de “vídeos relacionados” devidamente selecionados pelos algoritmos do sistema. A tendência, nesse caso, é servir-se desse menu sem reservas e com pouca atitude crítica, o que pode limitar o alcance da pesquisa, pois neste caso quem dirige a busca não é exatamente o usuário, mas a programação algorítmica do portal.

Um bom modo de escapar disso é especificando, com a maior gama possível de detalhes, qual a natureza da pesquisa. Quanto mais evitarmos as escolhas dos algoritmos, tanto melhor. Claro que muitas vezes as seleções do sistema podem nos servir, mas o usuário empenhado em desviar das distrações dos “vídeos relacionados” certamente obterá da experiência um proveito muito superior ao do turista que se contenta em apenas passear livremente pela selva de informações da plataforma.

Como quase tudo na vida, a ferramenta em si mesma não é o problema. O usuário que não sabe o que quer pode se divertir por horas a fio, sem se dar conta de que seu tempo foi praticamente exaurido pela brincadeira. Já aquele que sabe o que quer entra na grande loja, adquire o que precisa e sai pelos fundos, pois tem mais o que fazer. Devemos, a meu ver, estar permanentemente cientes de que é a plataforma que deve nos servir e que quando o jogo se inverte, ao nos tornamos “escravos da ferramenta”, servimos bem pouco a nós mesmos e bem mais aos que lucram com nosso tempo, o bem mais precioso de que dispomos.