Imagem ilustrativa da imagem Quando eu olho para o teu lago
| Foto: Gustavo Carneiro

Quando eu olho para o teu lago, Londrina, lembro que há 500 milhões de anos existiam na Terra apenas um continente — a Pangeia — e um oceano — o Pantalassa. Com o passar dos séculos, os movimentos tectônicos foram dividindo a Pangeia em duas partes, denominadas Gondwana e Laurásia. Há 130 milhões de anos, quando o gigante Gondwana começou a se separar em dois continentes, hoje conhecidos como América do Sul e África, o chão se abriu em uma espécie de pranto geológico, provocando um derrame de lava vulcânica que deu origem ao latossolo vermelho, este chão fecundo que tanto amamos. Antes do lago das águas, foste o lago das lavas. Londrina, tu és a lágrima da Terra.

Quando eu olho para o teu lago, Londrina, lembro que deste solo fertilíssimo nasceu uma floresta exuberante, cujos segredos só os índios e os caboclos conheciam bem. Depois veio a caravana, e atrás dela povos de todo o planeta, edificando uma civilização no meio da mata. A floresta deu lugar ao café, o café deu lugar aos prédios, os prédios apontam o céu. Milhões de anos depois, os continentes voltaram a se encontrar na forma de uma cidade. Londrina, tu és a Pangeia do Sertão.

Quando eu olho para o teu lago, Londrina, lembro a infinidade de amor e perdão que encontrei aqui desde o primeiro minuto. Penso nas paixões, nas dores e nas alegrias que descobri entre as moradas do teu castelo. Minha mulher, meu filho, meus sete leitores, os amigos, os inimigos, os conhecidos e aqueles de quem ainda não vi o rosto e o nome — todos eles aparecem no espelho das águas. Londrina, tu és a terra da consolação.

Quando eu olho para o teu lago, Londrina, lembro meu pai saindo de sua última sessão de quimioterapia, e me convidando para fazer uma caminhada. Era um final de tarde, teu lago refletia o incêndio do poente e as primeiras luzes da noite. Quando chegamos em casa, minha mãe havia montado a árvore de Natal. Londrina, tu és a luz da saudade.

Quando eu olho para teu lago, Londrina, lembro todos os dias e noites que passei sem rezar. Na esquina da JK com a Higienópolis, eu me confundia com o fato de que as duas avenidas eram paralelas e se cruzavam ao mesmo tempo. A resposta do enigma, no entanto, não estava no meio da rua, mas bem atrás de mim: na Casa de Deus, Jesus e sua Mãe me aguardavam silenciosamente. Londrina, tu és a minha salvação.

Todas as manhãs eu olho pela janela da minha casa e vejo teu lago, Londrina. Igapó significa muitas coisas: rio das raízes, encontro das águas, encontro das gentes, encontro das memórias, símbolo dos tempos, espelho da terra, reflexo do céu, retrato fiel. Tudo isso eu vejo em teu lago. Londrina, tu és o espelho da eternidade.

Feliz aniversário — minha cidade, meu lago, minha vida.

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