O taxista musical
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quinta-feira, 12 de dezembro de 2019
Paulo Briguet
— Boa tarde. Tudo bem?
— Boa tarde. Como vai?
— Tudo certo. O sr. é o taxista de vez?
— Sou eu mesmo. Pode entrar.
— Com licença.
— Vamos pra onde?
— Madre Leônia, perto do santuário.
— Então, vamos.
— Por curiosidade: o sr. está ouvindo Offenbach. Gosta de música clássica?
— Olha, não é que eu goste de música clássica. Eu gosto de música boa.
— Poxa vida, parabéns! Hoje em dia é difícil encontrar alguém com esse gosto.
— Está vendo esse pen drive. Aqui tem centenas de músicas, só coisa de qualidade. Tem Bach, Beethoven, Mozart, Brahms, Schubert, Haydn, Villa-Lobos...
— Que maravilha. Nos últimos anos, com a internet, ficou bem mais fácil encontrar essas grandes obras. Antes a gente tinha que ir até a loja de discos ou ficar esperando o programa da Fernanda Jiran...
— É verdade. Estou com 62 anos, mas gosto de música desde jovem, aprendi em casa. E não é só música clássica, não. Gosto muito de música brasileira, não essas porcarias que tocam nas rádios, mas os bons cantores e compositores. Também adoro música americana. Frank Sinatra, por exemplo.
— Ele é ótimo. Ele e a Ella Fitzgerald...
— Gigantes. Sabe, é bom conversar com quem entende de música. Mas não é só música que me interesse. Desde criança eu gosto de ler sobre história e geografia.
— Minha mãe era professora de história e geografia, eu também gosto muito.
— Como taxista, muitas vezes eu conheço pessoas que viajaram pelo mundo. Dias desses, um passageiro havia acabado de chegar da Irlanda, e disse que havia visitado um museu lindo em Glasgow...
— Glasgow?
— Pois é. Com delicadeza, eu disse que ele talvez estivesse confundindo Glasgow com Dublin... A gente sabe que Glasgow fica na Escócia.
— E o sr. já conheceu algum país estrangeiro?
— Não. Nunca saí do Brasil, mas é como se eu conhecesse esses lugares. Outro dia conversei com uma senhora que passou meses na Turquia. Ela ficou impressionada quando percebeu que eu sabia os nomes e as características de cada região. A Turquia é linda... No Brasil, a gente tem a mania de chamar os árabes de “turcos”. Mas isso está errado. São povos diferentes.
Quando chegamos à Madre Leônia, já tínhamos conversado bastante sobre música e geografia.
— Qual é o nome de senhor? — perguntei.
— Samuel. E o seu?
— Prazer, Samuel. Eu me chamo Paulo Briguet.
— Briguet? O do jornal? Foi bom conversar com você!
Quando nos despedimos, tocava a “Aleluia” de Haendel.
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