Imagem ilustrativa da imagem O incêndio da nossa alma
| Foto: Shutterstock

Em 1793, no auge do Terror da Revolução Francesa, o jornalista Jacques Hébert, representante da extrema-esquerda jacobina, liderou uma campanha de perseguição ao cristianismo em toda a França. Uma das primeiras atitudes de Hébert foi invadir com tropas revolucionárias a Catedral de Notre-Dame, em Paris. Todos os símbolos cristãos e imagens de santos foram retirados da igreja. A belíssima catedral gótica, um dos maiores tesouros artísticos da arte cristã em todos os tempos, foi transformada em “Templo da Razão”. O altar-mor foi coberto por um monte de terra; sobre ele, os revolucionários entronizaram uma “Deusa da Razão”, representada por uma bela atriz.


Há uma tela do pintor francês Charles Louis Müller (1815-1892) que mostra a jovem Deusa da Razão sendo carregada em cortejo pelas ruas de Paris. Na pintura, a atriz leva uma bandeira vermelha e tem um dos pés sobre um crucifixo. Enquanto acontecia esse “Festival da Razão”, padres e freiras da França eram cruelmente perseguidos pelos revolucionários; milhares acabaram na guilhotina. Depois, Robespierre transformou Notre-Dame em “Templo do Ser Supremo”. Depois que Robespierre e Hébert acabaram guilhotinados, a igreja chegou a ser usada por um tempo como depósito de grãos.


Essas imagens me vieram à mente assim que vi as terríveis cenas da Catedral de Notre-Dame sendo devorada pelas chamas. Para os católicos de todo o mundo, o incêndio na catedral gótica de Paris foi um acontecimento estarrecedor, principalmente pelo fato de ocorrer na Semana Santa, o mais importante período do calendário litúrgico.


Estive em Notre-Dame há 17 anos, em maio de 2002. Lembro-me que havia, nas paredes laterais da igreja, algumas imagens de mártires da Igreja, mortos pelo totalitarismo do século XX, entre eles o meu querido São Maximiliano Kolbe. Perto do altar-mor, um padre entoava um canto gregoriano. Naquela ocasião, a catedral, chamada por Victor Hugo de “Bíblia de Pedra”, estava completando 840 anos!


Dois anos antes, eu visitara as cidades históricas mineiras. Em Mariana, encontrei a Igreja de Nossa Senhora do Carmo devastada por um incêndio, ocorrido alguns dias antes. Quando olhei para aquele templo desolado, pensei imediatamente: “Esta é a minha alma”. A partir daquele momento, voltei a acreditar em Deus. A igreja queimada foi o acontecimento central de minha vida.


Saberá a humanidade compreender o sinal do incêndio de Notre-Dame? Para onde caminha a civilização? Permitiremos que o fantasma de Hébert volte a governar a alma de nosso tempo?