Imagem ilustrativa da imagem O fariseu e o empresário
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Naquele dia dois homens foram à igreja para rezar: um era fariseu, o outro empresário. Junto com eles entrou uma pomba.

O fariseu, com os olhos voltados para o céu, rezava assim, em seu íntimo:

“Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, violentos, injustos, reacionários, como este empresário capitalista, explorador dos pobres. Eu vou à missa todos os domingos, combato as injustiças sociais, defendo o meio ambiente, colaboro com as ONGs que vão salvar a Amazônia, estou com meu dízimo e meus impostos em dia. Jamais cometi pecados sociais ou ecológicos. Ao contrário desse empresário pecador, eu nunca fiz discurso de ódio, nem contestei as autoridades da Igreja, nem soneguei impostos, nem compartilhei fake news, nem me prendi a tradições ultrapassadas. Ah, também odeio aquele Bernardo Pires Küster.”

Enquanto o fariseu rezava, o empresário ficou a distância. Tinha os olhos voltados para o chão, não se atrevia a olhar para o altar e não percebeu que a pomba havia pousado sobre a cabeça do Cristo crucificado, como se a coroa de espinhos fosse o seu ninho. Batendo no peito, ele rezava e chorava:

“Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador! Tem piedade dos erros que cometi em minha juventude, quando apoiei esse partido que agora devasta a nossa Igreja... Tem piedade das pessoas que eu não pude ajudar, porque estava tentando resolver os meus próprios problemas... Tem piedade de mim com meus erros, minhas revoltas, minhas angústias, meus egoísmos, minha fé vacilante, minha esperança ferida e minha falta de caridade... Perdão, Senhor!”

Durante todo o tempo em que os dois homens rezavam, a pomba parecia observá-los fixamente com seus olhinhos negros. De repente, ela bateu asas, percorreu voando toda a extensão da igreja e veio a pousar sobre o sacrário.

Nesse momento, uma jovem entrou na Igreja. Era portadora da síndrome de Down. Sentou-se ao lado do empresário, apontou o crucifixo do altar e disse:

— Sabe aquela cruz, moço? Parece que Jesus está ali, mas Ele não está.

O empresário encarou-a, perplexo. A jovem apontou o sacrário e o Santíssimo Sacramento:

— Sabe aquele pão, moço? Parece que Jesus não está ali, mas Ele está.

O fariseu terminou suas preces. Estava incomodado com o olhar da pomba sobre ele. Levantou-se, lançou um último olhar de desprezo ao empresário e saiu da igreja.

O empresário desejou a paz de Cristo à jovem, levantou-se e procurou o confessionário. Mas, na secretaria da igreja, havia um cartaz com os seguintes dizeres: NÃO HÁ MAIS CONFISSÕES.

O empresário quis saber por quê. A secretária da igreja respondeu:

— O padre confessor foi mandado embora da cidade. Parece que ele era amigo de pecadores.

A pomba voou.