Até agora não sei o que me deu. Na noite de segunda-feira, comi um sanduíche e, minutos depois, comecei a passar mal. Tomei um sal de frutas, mas não adiantou nada. Passei a noite em claro, com ânsias e dor de barriga. De manhã, estava em cacos: parecia ter levado uma surra.

Imagem ilustrativa da imagem Minha mãe cuida de mim
| Foto: Acervo Familiar

E assim foi o dia inteiro. A duras penas, consegui me arrastar até o computador para trabalhar um pouco. Mas o trabalho não rendia, as palavras se embaralhavam, minha produtividade caiu uns 80%. Desmarquei compromissos, desliguei o telefone, comecei a rezar.

Primeiro, as palavras do anjo Gabriel à jovem judia escolhida para ser a Mãe do Salvador: Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco. Depois, as palavras da prima Isabel ao receber a Virgem em Ein Kerem: Bendita sois vós entre a mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre — Jesus.

Jesus, Jesus Cristo: o nome e o título unidos na mesma pessoa. Deus-Homem. Como disse Bento XVI: “A palavra interpretativa tornou-se o nome, e, assim, nesta palavra se encontra uma profunda afirmação: Ele está completamente unido à sua missão; a sua missão e o seu próprio ser não podem, absolutamente, ser separados. A sua missão tornou-se então uma parte do seu ser”.

Comecei então a sentir os sintomas de uma gripe ou virose: coriza, dor de garganta, dores por todo o corpo, calafrios. Achei que estivesse com febre. E continuei a rezar, mesmo com dificuldade: Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte.

Rosângela fez tudo que podia para me ajudar. Cuidou das crianças, preparou uma canja, deixou tudo pronto. Mas também fez um alerta:

— Paulo, você já vai fazer 50 anos. Não é mais um menino, precisa cuidar da sua alimentação, ter hábitos mais saudáveis.

Ela tem razão. Cinquenta anos é uma fronteira da mortalidade. Foi ultrapassada a marca da meia-idade; o dia da minha morte está mais próximo do que o dia do meu nascimento. Agora e na hora de nossa morte.

Então eu pensei em minha mãe. Durante muitos anos, Aracy rezou para que eu me convertesse, para que eu voltasse a Deus. E a oração que ela fazia era a mesma que eu faço agora. A cada Ave-Maria que rezo, coloco-me diante de minhas duas mães: a do Céu e a da Terra.

À noite, eu ainda estava mal. Disse à Rosângela:

— Se eu não melhorar até amanhã, vou ao médico.

Foi quando me lembrei de um costume de Aracy. Sempre que eu estava doente, na infância, ela embebia um lenço em álcool e colocava em torno do meu pescoço, antes de dormir. Foi o que eu fiz.

De manhã, acordei outra pessoa. Sem dores, sem sintomas, sem cansaço. Um homem novo.

Rosângela sorriu e disse:

— Sua mãe continua cuidando de você.