Imagine que você é pai ou mãe de uma jovem que acabou de passar no vestibular. Imagine a alegria da família; os sorrisos e abraços de felicitação; a sensação de triunfo; a expectativa para o primeiro dia de aula. Imagine que se trata de uma universidade pública. Imagine que a sua filha, depois de anos de estudos e esforços, foi aprovada em um dos cursos mais concorridos da instituição — o de Medicina Veterinária, por exemplo.

Imagem ilustrativa da imagem Dificuldades de uma caloura de direita
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Imagine agora que você notou sinais de preocupação e angústia no rosto de sua filha.

— O que aconteceu, minha filha? Você parece incomodada com alguma coisa...

Imagine que então, após alguma insistência, ela resolve contar a você o que está acontecendo.

— Mãe, vou abrir o jogo com você. O problema é o seguinte. Logo assim que saiu o resultado do vestibular, alguns veteranos do curso procuraram o meu perfil no Facebook.

— E qual é o problema nisso, minha filha? Certamente eles querem te conhecer melhor.

— O problema é exatamente esse, mãe. Eles não gostaram do que viram.

— Como assim?

— Descobriram que eu sou de direita, que eu sou cristã, que eu votei no Bolsonaro.

— É o que é que tem? Eu também sou tudo isso.

— O problema, pelo que entendi, é que na universidade está proibido ser de direita.

— Mas 80% dos eleitores da nossa cidade votaram no Bolsonaro... Eles acham que todo mundo é criminoso?

— Sim, eles acham. Alguns estudantes, quando descobriram minhas opiniões, começaram a me detonar nas redes sociais. Me chamaram de bolsominion, de fascista, de racista, de homofóbica, de miliciana. Disseram que eu não vou ter paz na faculdade. Um deles escreveu: “Se você algum dia tiver a coragem de ir a uma festa, nós vamos te atormentar até você ir embora. Teu lugar não é aqui, filhote do Bozo!”

— Vamos denunciar isso ao reitor!

— Eles dizem que o reitor não vai fazer nada.

— Filha, você pode me mostrar o que eles andaram escrevendo?

— Melhor não, mãe. Não quero que você fique nervosa. Aliás, eu já apaguei o meu perfil. Não quero ser hostilizada assim. Posso te confessar uma coisa, mãe? Eu estava pensando em desistir.

— Como assim, desistir?! Depois de tanto esforço, de tanto sacrifício? Depois de trabalhar a vida inteira, ver o sonho da minha filha destruído por um bando de estúpidos? Isso, não! Jamais!

— Pois é, mãe. Eu pensei bastante — e desisti de desistir. Fui procurada por um pessoal da universidade, um grupo que defende estudantes que enfrentam o mesmo problema. Acho que eles vão me ajudar.

— Que bom, filha. E quem são esses anjos?

— O nome do grupo é Casa da Tolerância. Eu não vou desistir, mãe. Por você, pelo papai, por tudo que nós vivemos — aqueles caras vão ter que me aceitar. Um dia, eles ainda vão me pedir perdão por tudo que fizeram. E quer saber, mãe? Eu vou perdoar. Não é isso que Jesus faria?

(Sim, eu pedi para você imaginar. Mas a história acima é real.)