O professor e cientista Marcelo Hermes-Lima, fundador do movimento Docentes pela Liberdade, que reúne professores conservadores de todo o Brasil, teve uma recente audiência com o presidente Jair Bolsonaro, em Brasília. Na entrevista a seguir, Marcelo Hermes fala sobre essa conversa no gabinete presidencial:

Imagem ilustrativa da imagem Conversa com o presidente Bolsonaro
| Foto: Divulgação/Presidência da República

Avenida Paraná: Em seus trabalhos de cientometria, você tem demonstrado que a universidade produz muita pesquisa, mas com baixa relevância. Você mostrou seus estudos ao presidente?

Marcelo Hermes: Disse ao presidente que o Brasil publica muitos artigos científicos, 78 mil em 2017, passando de 80 mil em 2018. Somos o 14º colocado do mundo em quantidade de publicações. E isso foi muito celebrado pelos governos anteriores. Porém, em impacto científico, esses estudos apresentaram — na média — resultados pífios. A mensuração do impacto de dezenas de milhares de publicações só é possível pela avaliação das citações desses estudos por outros artigos. Nesse sentido, em um ranking de 70 países com pelo menos 3.000 publicações em 2017, ficamos em 58º lugar em citações por publicação (CPP). Repito, 58º colocado de 70 países! O impacto da ciência brasileira, em 2017, apresentou apenas 46% do 1º lugar do mundo, a Suíça. Estamos empatados com a Nigéria e abaixo da Argélia.

Avenida Paraná: Muitas vezes as universidades brasileiras alardeiam suas posições em rankings internacionais. Você abordou esse tema com Bolsonaro?

Marcelo Hermes: Sim. Mostrei que a USP é, de acordo com o Leiden Ranking, a 8ª maior universidade do mundo em termos de quantidade de publicações científicas, mas a grande imprensa tenta confundir a população dizendo que a USP seria a 8ª melhor do mundo. Para demonstrar a falsidade dessa conclusão, comparei Hollywood com Bollywood, em termos de quantidade e qualidade de filmes. O presidente me disse que nunca assistiu um filme de Bollywood, apesar de produzirem dez vezes mais filmes que Hollywood. Quantidade não é sinônimo de qualidade! O presidente entende muito bem o quanto a grande imprensa mente!

Avenida Paraná: Qual é o método mais eficiente para avaliar uma universidade?

Marcelo Hermes: O que importa de fato é o impacto científico da pesquisa universitária, que é quantificada pelo percentual de artigos que estão entre os 10% mais citados do mundo. Nesse quesito, conhecido como “% top10”, nossa universidade mais bem classificada está na posição 711, que é a Federal do Ceará. A USP está na 780ª posição (e 8ª posição dentre 21 universidades brasileiras avaliadas pelo Leiden). O presidente tomou um susto com esses dados. Eu disse a ele que era inadmissível que o Brasil – 8ª maior economia do mundo – não ter pelo menos uma universidade entre as 100 primeiras colocações mundiais de impacto. Essa vergonha é certamente fruto de 30 anos de dominação esquerdista nas universidades e nas políticas públicas de educação superior.

Fale com o colunista: [email protected]