As Bodas de Quatiguá

Dias atrás fui arrebatado por uma frase de Santa Teresinha do Menino Jesus: “Eu sou aquilo que Deus pensa de mim”. Com essas poucas palavras, a jovem doutora da Igreja revela uma verdade paradoxal: não importa se você acredita em Deus, mas se Deus acredita em você.

Quando Deus pensou em Lourenço e Elia, dois filhos da pequena Quatiguá, já sabia que seus caminhos se cruzariam. A partir desse encontro, eles escreveram, com as próprias mãos, guiadas por Deus, uma história de amor, cumplicidade e dedicação que hoje completa 50 anos.

Lourenço Vale Luca e Elia Piratelo Vale casaram-se em 13 de setembro de 1969. Por causa do trabalho de Lourenço — um dedicado bancário —, moraram em dez diferentes cidades do Paraná. Conheci-os há 30 anos, quando vim estudar jornalismo na UEL, na mesma turma de sua filha Rosângela. Na época, jamais poderia imaginar que eles se tornariam meus queridos sogros e avós do meu filho. Mas foi o que aconteceu; era o que Deus pensava de mim.

Deus já levou meu pai e minha mãe. Mas, com Sua infinita bondade, deixou-me aqui na Terra os seus substitutos. Algumas coincidências demonstram essa intenção divina: se Paulo e Aracy estivessem vivos, também estariam completando meio século de matrimônio; o nome do meu sogro é o sobrenome do pai; Lourenço Vale e Paulo Lourenço eram bancários; e todos os dias, sem exceção, nossa família testemunha a generosidade e o caráter de Seu Lourenço e Dona Elia. Eu sinceramente não sei o que seria da nossa vida sem a presença deles.

O escritor canadense Northrop Frye afirma que todas as histórias da literatura ocidental têm origem nos textos bíblicos. Creio que semelhante regra se aplica às nossas vidas pessoais. De certa maneira, o casamento de Quatiguá me faz lembrar as bodas de Caná, onde Jesus realizou seu primeiro milagre — a transformação da água em vinho — após um pedido de sua Mãe. E foi quando Maria pronunciou uma frase que serve como lei universal para todos nós: “Fazei tudo que ele vos disser”.

A vida de Lourenço e Elia tem sido guiada pela obediência à recomendação da Mãe de Deus. O nome Lourenço significa aquele que recebe os louros; Elia significa Sol; ambos carregam no nome o respeito e a gratidão que nos inspiram. Casaram-se um dia antes da festa de São João Crisóstomo, o grande teólogo e bispo do século IV, conhecido como “Boca de Ouro”. É uma imensa felicidade saber que eles chegam às bodas de ouro com saúde, lucidez e alegria para olhar o caminho já percorrido e repetir as últimas palavras de Crisóstomo: “Glória a Deus por tudo”.