Fernanda Leite Carvalhaes é a mãe que em 1º de novembro gravou um vídeo denunciando a apresentação de uma polêmica peça teatral no Colégio Estadual Hugo Simas, em Londrina. O espetáculo apresentado na escola defendia a ocupação de prédios públicos por estudantes, crime tipificado no Artigo 161 do Código Penal. Leia a seguir a entrevista concedida por Fernanda Carvalhaes à Avenida Paraná:

Imagem ilustrativa da imagem A mãe que não se cala
| Foto: Acervo pessoal

Por que você gravou aquele vídeo?

Fernanda Carvalhaes: Quando você confia um filho à escola, está depositando uma confiança na instituição, acredita que ele estará em boas mãos. O episódio da peça serviu para demonstrar que às vezes há uma quebra dessa confiança. Gravei o vídeo por entender que não podemos ficar calados quando isso acontece. Mas não ficamos só no vídeo: formamos um grupo de pais e mães e levamos a denúncia a diversas instâncias: Nucria, Vara da Infância e Juventude, Vara Criminal, Núcleo Regional de Educação, 10ª Subdivisão Policial.

Quais foram as principais reações (positivas e negativas) desde que você divulgou o vídeo?

As reações positivas vieram de muitas mães que me procuraram e se disseram representadas por mim. Algumas me acompanharam quando eu denunciei o caso às autoridades públicas. Fui procurada inclusive por professores do colégio, que não podem se identificar, porque temem represálias dos militantes.

Você sofreu algum tipo de ataque ou ameaça? Sua vida foi vasculhada?

Muitas pessoas se referiram a mim com palavras ofensivas, sem ao menos me conhecer. Fui chamada de homofóbica, retrógrada, fascista. Como não puderam abafar o caso, me atacam. Vasculharam a minha vida até desenterrar um processo judicial sobre um caso ocorrido há 20 anos. Depois de sofrer esse processo, eu fiz a faculdade de Direito com o objetivo de esclarecer a verdade. É isso o que eu busco em minha vida: a verdade.

Como você vê essa polêmica no atual contexto político brasileiro?

Para uma minoria, parece que dizer a verdade se tornou crime. Aliás, é espantoso: pessoas que estão defendendo a liberdade de um bandido condenado não perdoam uma cidadã comum, uma simples mãe de família. É um insulto à nossa inteligência! Um homem condenado por corrupção e lavagem de dinheiro sai da prisão e diz que “o Brasil deveria seguir o exemplo do Chile”. O que esse criminoso prega não ofende o grupo que abraçou o Colégio Hugo Simas; mas o apelo de uma mãe indignada é considerado crime. Diante de um absurdo desses, não podemos nos calar. Não podemos ficar indiferentes. A escola é um instrumento que essas pessoas usam para aliciar inocentes. Eles querem que os nossos jovens se tornem soldados da baderna, mas isso não vai acontecer — porque as famílias brasileiras e os bons professores não vão permitir. Por respeito à história e à tradição do Colégio Hugo Simas, precisamos levar essa luta adiante. A escola está acima de qualquer partido.