Os dois últimos meses devem encerrar um ano com resultados muito melhores que a maioria de nós, economistas, havíamos imaginado.

Um PIB que pode alcançar 3% de crescimento, taxa de desemprego em 8,7%, inflação caindo, dólar se mantendo estável nos R$ 5,20 com retomada do setor de serviços e bons números do setor exportador.

Mas para 2023 o cenário é outro, com desaceleração do crescimento e volta das dificuldades para o emprego e a renda. E isso tem pouco ou nada a ver com quem ganhou no pleito eleitoral.

Uma situação já configurada ...

As medidas que ajudaram a atividade econômica em 2022 já se esgotaram e não há chance de serem reeditadas. No campo internacional o cenário que se avizinha é desfavorável e as contas públicas tendem a deterioração pela necessidade de cumprir as promessas de campanha.

... que exigirá muito talento.

Qualquer dos candidatos que disputaram o cargo de presidente do país se depararia com esta mesma situação. A forma de seu enfrentamento determinará o quão o governo será bem-sucedido em nos tirar deste imbróglio.

Sem a desonerações sobre combustíveis...

A retenção dos preços com base no artifício da redução do ICMS sobre combustíveis e energia elétrica que vigorará até dezembro, dificilmente será reeditada, pois além de considerada inconstitucional, os estados não teriam como absorver essa renúncia de receita.

... e novo impulso ao consumo ...

Por outro lado, a aprovação da manutenção do valor de R$ 600 para o benefício mensal pago a famílias em situação de vulnerabilidade, embora defensável, é uma injeção de recursos que vai pressionar mais ainda os preços.

... a inflação tende a recrudescer.

A retomada da alíquota de ICMS e mais dinheiro para quem tem propensão ao consumo fará com que a inflação, que apresentou recuo em julho, agosto e setembro, ganhe os ingredientes necessários para retornar com força.

O iminente desequilíbrio fiscal...

A relação dívida/PIB, usada para medir a saúde financeira dos países, que havia caído para 77,5% em setembro de 2022, ultrapassará os 82% ao final de 2023 pela necessidade de encontrar espaço orçamentário para os programas assistenciais do governo e aumento do salário-mínimo.

... e a necessidade de combate à inflação ...

A piora nas contas públicas e inflação em elevação jogando contra o Banco Central, este precisará manter as taxas de juros elevadas por mais tempo, fazendo o papel de vilão, mas papel este, fundamental para não permitir uma reindexação inflacionária.

... manterão os juros nas alturas ...

Taxas de juros mais elevadas, tem exatamente este propósito – desviar dinheiro que iria para o consumo das pessoas e das empresas, para a compra de títulos do governo a fim de expurgar o excesso de demanda, refreando o processo inflacionário.

... sacrificando o PIB e o emprego.

Mas isso significa queda nos investimentos e na produção que trará como resultado duas consequências: menor geração de emprego e perda na produção nacional. Projeções otimistas estimam um PIB de 0,6% para 2023 e consequente elevação nas taxas de desemprego.

A situação está dada...

Enfatize-se que esta situação já estava ‘contratada’ e não se apresentaria melhor com este ou aquele governante subindo ao poder.

... e é bola prá frente.

O processo eleitoral já passou e democraticamente elegemos quem estará a frente do executivo federal. Deixemos de lado o quanto pior melhor como argumento de defesa de posições.

Precisamos ter a noção real da situação e cada um fazer a sua parte para juntos, superarmos estes obstáculos.

Marcos J. G. Rambalducci - Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.