Com o bombardeio de informações a que estamos sujeitos, tendenciosidades para fazer prevalecer determinadas crenças e o fato de estamos emocionalmente envolvidos, manter a racionalidade é tarefa que exige esforço e reconheço que tenho muita dificuldade em entender o discurso que propõe a escolha entre salvar vidas ou defesa da economia.

Não há escolhas a fazer ...

Escutamos repetidas vezes que neste momento é importante atentar-se às vidas que podem estar em jogo e deixar para depois a recuperação da economia. Este conflito não existe – é preciso salvar vidas E proteger a economia. Por economia entenda-se produção e emprego.

...é um olho no peixe ...

É inquestionável a importância de achatar a curva epidemiológica, para não saturar o sistema de saúde e garantir que não haja mortes por falta de atendimento hospitalar.

... e outro no gato

Mas também é preciso garantir: a) que as pessoas tenham renda para adquirir os produtos básicos; b) que haja a produção e oferta destes produtos.

Não é suficiente ter dinheiro...

O governo pode até imprimir dinheiro e distribui-lo de helicóptero, mas não consegue imprimir latas de sardinha ou fraldas descartáveis.

... é preciso ter o que comprar

Portanto, não é suficiente somente ter dinheiro para comprar, é preciso garantir que se tenha o que comprar. Vale lembrar que o dinheiro é somente um instrumento para facilitar as trocas. Ninguém come dinheiro.

Não dá para esperar...

As pessoas em confinamento social, com níveis de estresse cada vez mais elevados, ao perceberem falta de produto nas prateleiras ou vão estocar ou vão saquear. Como lembra Alexandre Garcia em seu artigo da semana passada: “fome e desespero fazem selvagem o mais civilizado dos homens’.

... e tampouco imitar

É importante saber o que os países bem-sucedidos estão fazendo no combate ao vírus, mas é preciso deixar o lugar comum, e pseudo soluções confortáveis, mas que não nos contemplam e buscar soluções que atendam nossas peculiaridades e demandas.

À espera de um milagre

A não ser que um milagre ocorra, esta pandemia se estenderá pelo menos pelos próximos 10 meses. Não aguentaremos confinados até lá. Já passou da hora de encontrarmos melhores soluções.

Marcos J. G. Rambalducci - Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras