Todo início de ano, este espaço retorna a um tema fundamental para a cidade: o transporte coletivo. Não por acaso, afinal, além de ser um serviço essencial em qualquer sociedade, ele enfrenta um desafio recorrente em Londrina – como financiá-lo.

Enquanto a tarifa pesa no bolso do usuário, os custos operacionais aumentam, e o financiamento do sistema segue sem uma solução definitiva. Mais uma vez, é preciso discutir caminhos que garantam um serviço eficiente, acessível e sustentável para todos.

E vale lembrar que o transporte coletivo gera benefícios que vão muito além dos passageiros, pois um sistema eficiente impulsiona o desenvolvimento da cidade e melhora a qualidade de vida de toda a população.

A importância do transporte coletivo...

Cerca de 2,3 milhões de passagens são utilizadas mensalmente no transporte coletivo de Londrina. Considerando que cada usuário usa dois bilhetes por dia, são mais de 38 mil pessoas que diariamente se deslocam usando ônibus.

... para o sistema viário...

Agora, imagine que esse contingente se deslocando em veículos próprios. O número de automóveis triplicaria, tornando caótico um trânsito já sobrecarregando. Assim, o transporte coletivo não é apenas essencial para seus usuários diretos, mas um componente essencial para a mobilidade urbana e a eficiência do sistema viário.

..., para a qualidade do ar...

Além de aliviar o trânsito, o transporte coletivo desempenha um papel fundamental na redução da poluição. Estudos indicam que, em média, um ônibus urbano emite até 80% menos CO₂ por passageiro em comparação com um automóvel, tendo, portanto, papel relevante na qualidade do ar que respiramos.

... e para o meio ambiente...

Além de melhorar a qualidade do ar, a redução da emissão de gases de efeito estufa ajuda a combater as mudanças climáticas, e estamos presenciando que medidas desta natureza são essenciais para minimizar os eventos climáticos extremos que temos presenciado.

... tem um custo...

A operação de transporte coletivo em Londrina, atendido pelas duas empresas que operam o sistema é de aproximadamente R$ 25,4 milhões, o que significa que o valor da passagem para cobrir este custo é de, na média R$ 11,30 - a chamada tarifa técnica, lembrando que cada uma das empresas tem custos ligeiramente diferentes.

... não coberto pelo preço do ticket...

No entanto, o valor pago pelo usuário é atualmente de R$ 5,75. A diferença é coberta por todos nós, o que é absolutamente justo, visto que todos se beneficiam do transporte coletivo. Unicamente que esta informação passa desapercebida pela maioria da população.

..., deixando diferença significativa...

Dos 25,4 milhões, apenas R$ 10,8 milhões são cobertos pela cobrança da passagem do usuário. Os custos com a gratuidade no transporte coletivo é de 2,2 milhões e a diferença para o valor da tarifa técnica custa outros 12,4 milhões mensais.

..., paga pelo contribuinte...

Portanto, a tarifa paga pelos usuários cobre apenas 43% do custo total do transporte coletivo, enquanto os demais 57% são pagos pela Prefeitura, utilizando recursos arrecadados de todos os contribuintes. Este dado é pouco evidente porque se perde no emaranhado do orçamento municipal.

... e especialmente grande neste ano

Enquanto o custo do transporte coletivo de 2025 está projetado em R$ 304 milhões, cabendo à prefeitura cobrir a diferença entre o valor pago pelo usuário e a tarifa técnica, um total de R$ 178 milhões, o orçamento previu somente 73 milhões, um ‘furo’ de R$ 105 milhões que precisarão ser cobertos de alguma forma.

Mais transparência...

E preciso encontrar meios que deixem mais claro o financiamento do sistema de transporte coletivo. Uma cobrança nos moldes da taxa de lixo, lançada no carnê do IPTU poderia ser essa solução de transparência e poderia evitar o erro ocasionado no orçamento municipal deste ano.

A adoção dessa medida de transparência, no entanto, terá como grande desafio, deixar claro que não se trata de aumento de impostos, mas tão somente da explicitação da origem e destino do recurso.

Marcos J. G. Rambalducci - Economista, Professor da UTFPR e atual Secretário de Planejamento, Orçamento e Tecnologia do Município de Londrina.