A greve no transporte coletivo de londrina, deflagrada na última semana, trouxe novamente ao palco de discussões a situação do financiamento do sistema.

Imagem ilustrativa da imagem Transporte coletivo impacta muito além de usuários diretos
| Foto: Gustavo Carneiro - 05/01/21

Meu posicionamento é, no mais das vezes, de defesa de mecanismos de mercado, pela sua presteza em alocar recursos e organizar a atividade econômica da forma mais eficiente possível.

No entanto é flagrante a ineficiência do mercado em, deixado por si, fazer a correta cobrança de quem se beneficia dele.

Sem transporte coletivo ...

Para realmente ter uma dimensão do problema que um sistema público de transporte coletivo proporciona para a população, façamos um exercício de imaginar que ele simplesmente deixasse de existir.

... aumentam os acidentes e os óbitos, ...

Seriam 63.000 pessoas a mais por dia, se deslocando a pé, de bicicleta, de moto ou de carro. As bicicletas sem ciclovias na proporção necessária disputariam espaço com os carros ou pedestres nas calçadas. As motos triplicariam e os acidentes envolvendo motos e bicicletas e pedestres, na mesma proporção.

... gera o caos no sistema viário...

Caso 1 entre 6 pessoas que não tendo ônibus se passassem de carro, seriam 10.500 carros a mais, congestionando o trânsito já difícil na cidade. Estacionar no centro seria uma façanha e certamente muito mais caro que agora.

... e perdas econômicas e sanitárias

Sem lugar para o consumidor deixar seu carro o comércio, especialmente o central, vai sofrer e a população conviveria com uma poluição do ar muito maior, já que o transporte coletivo gera 10 vezes menos gases por pessoa transportada que um automóvel.

Mas se todos são beneficiados...

Observando todos os que perdem pela não existência do transporte coletivo fica mais claro perceber que todos ganham se ele estiver presente.

... por que só uma parcela paga?

No entanto, os custos do sistema recaem sobre uma minoria de usuários pagantes que, além de sustentar isenções de usuários não pagantes, carregam com os demais beneficiários ‘invisíveis’ e, portanto, inimputáveis.

É onde o mercado falha...

O custo marginal social desse ponto de equilíbrio não é igual ao benefício marginal que ele gera – caracterizando uma falha de mercado, pois impõe custos para uma fração da sociedade por um benefício que é de todos, simplesmente porque a maioria não passa pela catraca.

... que o poder público assume...

A forma correta de sustentar o sistema que atende a sociedade é por meio de recursos provenientes desta mesma sociedade. Compete ao poder público arcar com os custos que geram benefícios indiretos e aos usuários pelo serviço do qual são beneficiários diretos.

... o seu quinhão...

Em um cálculo aproximado estimo em 60% dos custos do transporte coletivo arcados de forma coletiva e os demais 40% na cobrança de passagem.

... seja municipal ou não

Se a parte que cabe ao poder público será suportada pela arrecadação municipal, estadual ou federal é ponto relevante da discussão, e merece o devido cuidado, pois precisa levar em consideração o nível de benefício proporcionado para não criar outro tipo de distorção.

Mas tem mais a ser feito

É preciso aumentar a eficiência e reduzir os custos do transporte coletivo. Isso exige ampliar as faixas exclusivas; que os semáforos privilegiem os ônibus; que sejam criadas linhas perimetrais; que paradas tenham painéis indicativos em tempo real e que seja permitido o transporte de bicicleta dentro do ônibus aos domingos.

Marcos J. G. Rambalducci - Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.

Receba nossas notícias direto no seu celular! Envie também suas fotos para a seção 'A cidade fala'. Adicione o WhatsApp da FOLHA por meio do número (43) 99869-0068 ou pelo link wa.me/message/6WMTNSJARGMLL1.