O conceito de ‘risco país’ é um termo frequentemente mencionado em discussões econômicas e financeiras, especialmente quando se trata de investimentos e análises macroeconômicas de diferentes nações.

A agência de classificação de risco Moody’s anunciou na semana passada (1) uma melhora na perspectiva do risco Brasil, assim como já o tinham feito as agencias Fitch e Standard&Poor’s.

Mas não é trivial entender que tais avaliações desempenham um papel crucial na determinação do custo de financiamento de um país e influencia uma série de fatores econômicos que afetam diretamente o cotidiano das pessoas.

Um risco país alto ...

O risco país refere-se à probabilidade de que mudanças políticas, econômicas, ou financeiras em um país que possam impactar adversamente os investidores ou credores e um risco país alto significa uma maior probabilidade de o país não vir a cumprir suas obrigações financeiras.

... eleva a taxa de juros ...

O não cumprimento das obrigações financeiras ou mesmo a sinalização de que possa vir a não as cumprir tem, como primeira consequência, a elevação da taxa de juros sobre sua dívida para compensar esse risco adicional.

... sobre uma dívida gigantesca...

Dados do Banco Central mostram que a dívida Bruta do Governo em fevereiro era de R$ 8,3 trilhões, ou seja, cada 1% de variação nos juros desta dívida representa R$ 83 bilhões, o que equivale a 3,5 vezes o PIB de Londrina de 2021.

... impactando o mercado de trabalho...

Juros altos aumentam o custo do crédito para empresas levando a uma redução nos investimentos e por consequência, limitando a expansão do negócio e a criação de novos empregos.

... e reduzindo o consumo

Além de aumentar os custos para as empresas, juros altos também significará crédito mais caro, dificultando compras maiores como casas e carros, desaquecendo mais ainda a economia com a desaceleração do mercado imobiliário e da indústria.

Quem avalia o risco...

São as agências de classificação de risco que se especializam na análise de crédito de empresas e países, medindo a capacidade que um credor tem de pagar o que pega emprestado no mercado. São três as principais agências de risco: Moody’s, Fitch e Standard & Poor’s.

... , como os classifica...

Cada agência tem sua própria classificação. No caso da Moody’s, ela utiliza uma escala que vai de Aaa, indicando a menor percepção de risco, até C, que indica um país em moratória. As notas são divididas em categorias - de Aaa até Baa3, grau de investimento, que significa um país confiável para se investir, e de Ba1 até C, grau especulativo, que significa um país de alto risco para investimentos.

... e que nota nos dão

Nos últimos anos da década de 2000, elas deram ao Brasil o grau de investimento - um selo de bom pagador. Mas, em 2015 e 2016, elas rebaixaram a avaliação do país para grau especulativo. No caso da Moody’s nossa nota é Ba2, mas na semana passada sinalizou que poderá elevar essa nota, talvez para Ba1, mas ainda no campo de investimentos especulativos.

As reformas promoveram a melhora...

A avaliação da melhora na percepção do risco Brasil estão: A Lei das Estatais, que melhorou a governança de empresas do governo; a Reforma trabalhista, que flexibilizou as regras; a Reforma da Previdência que estancou a sangria dos regimes de aposentadoria; e a Autonomia do Banco Central, que permite a ele resistir a pressões políticas.

..., mas é preciso reduzir o endividamento

Para retomar uma nota de grau de investimento, que nos ajude a reduzir as taxas de juros e torne possível melhorar as condições de crescimento do país será preciso adotar medidas que levem a uma trajetória de diminuição desta dívida.

Enfim, sem buscar o equilíbrio fiscal, adequando os gastos à arrecadação, certamente será mais difícil obter uma nota que nos coloque como alvos atraentes para novos investimentos.

Marcos J. G. Rambalducci - Economista, Professor da UTFPR