Imagem ilustrativa da imagem Pacote com potencial de se tornar um desserviço à economia
| Foto: iStock

O Banco Central tem a antipática, mas imprescindível tarefa de preservar o poder de compra da moeda. Dentre os poucos instrumentos de que dispõe está a taxa básica de juros, que foi elevada na quarta-feira (16) em mais 1%, agora a 11,75% ao ano.

O governo federal, por sua vez, lançou nesta quinta-feira (17) um pacote para injetar R$ 150 bilhões na economia até o fim de 2022.

A maioria de nós possivelmente não vê qualquer contradição nestas duas medidas, mas elas estão em sentido diametralmente oposto sob a ótica do combate à inflação.

Injeção de dinheiro ...

O pacote de medidas editadas na semana passada consiste na ampliação do percentual consignável dos salários dos aposentados, de 35% para 40%, saque de até R$ 1 mil do FGTS, antecipação do 13º aos aposentados e ampliação de acesso ao microcrédito digital.

... com um olho no peixe ...

As medidas buscam reanimar a atividade e melhorar as perspectivas de uma economia marcada pela inflação de dois dígitos, nível de endividamento recorde e deterioração do cenário econômico externo.

... e outro no gato

Há consenso entre os economistas que estas medidas trarão um efeito insignificante em termos de aquecimento da economia, e com potencial de incrementar ainda mais a inflação, mas seguramente podem se reverter em dividendos eleitorais.

A preocupação seria meritória ...

Lançar mão de medidas que possam ajudar a população, especialmente os de mais baixa renda a enfrentar tempos difíceis como estes, é louvável em qualquer momento.

... se não fosse completamente ineficaz

Ocorre que vivemos um drama na perda do poder aquisitivo das pessoas, fruto de uma inflação de 10,5% - a maior dos últimos 19 anos e colocar mais dinheiro no mercado só tende a aumentá-la, corroendo todo o potencial de possíveis ganhos.

Desequilíbrio na balança...

A inflação é decorrência de um desequilíbrio entre a quantidade de dinheiro que as pessoas têm disponível para gastar e a quantidade de produtos que o mercado tem disponível para vender.

... provoca correção no preço ...

Se a soma de dinheiro dos compradores for maior que a soma do preço dos produtos, os produtos sobem até que o equilíbrio seja retomado – ou seja, que a quantidade de dinheiro dos compradores seja igual a soma do preço dos produtos.

... que o BC tenta evitar...

O Banco Central sobe os juros para tornar mais atrativo a quem tem dinheiro, utilizá-lo para comprar títulos - que rendem juros, do que utilizá-lo em comprar. É assim que o BC busca equilibrar a quantidade de dinheiro na mão dos compradores em relação a soma do preço dos produtos.

… mexendo no outro prato da balança

Este movimento de retirada de dinheiro em circulação evita que o reequilíbrio se dê pelo aumento nos preços e sim pela diminuição de dinheiro disponível para gastar.

Pode ser um desserviço...

Agora observe: O BC eleva as taxas de juros buscando tirar dinheiro do mercado para conter a inflação. No dia seguinte o governo traz um pacote de medidas que injeta R$ 150 bilhões no mercado.

... uma vez que não aumenta o produto ...

Colocar mais dinheiro no mercado não aumenta a quantidade de arroz e feijão disponível, portanto o equilíbrio se dará por mais subida nos preços, ou por uma atuação ainda mais forte do BC para neutralizar estes efeitos, aumentando mais ainda a taxa de juros.

..., mas pode elevar a popularidade

Ora, então por que pessoas tão inteligentes adotam essas medidas? Porque, como a grande maioria não se preocupa com este tipo de análise, tem um grande potencial para gerar ganhos eleitorais, penso eu.

Marcos J. G. Rambalducci - Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras

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