Defendo com vigor a necessidade de nosso sistema produtivo adotar as melhores práticas e técnicas no processo de manufatura, incorporando todo o desenvolvimento possível.

No entanto, é indiscutível que tal adoção tecnológica é destruidora de postos de trabalho e estes não são compensados pela criação de empregos em outros setores, especialmente quando estas tecnologias são importadas. Mas é possível encontrar soluções.

Desejamos produtividade ...

A luta contra o processo de tecnificação está fadada ao fracasso, pelo simples motivo que os consumidores, que somos todos nós, a desejamos e respondemos a ela com entusiasmo. E não é necessário um plebiscito para chegar a esta conclusão.

... porque potencializa nossa renda ...

Diante de um produto de R$ 80 e outro similar de R$ 60 a decisão racional do consumidor é pelo mais barato, decisão lógica que lhe permitirá utilizar a diferença para atender outras necessidades.

... e não por quem foi produzido ...

Na maioria das vezes, ninguém pergunta se o preço mais barato foi o resultado de uma produção realizada por robôs. E mesmo que pense nisso, dificilmente optará pelo mais caro em razão disso.

... e a indústria sabe disso.

Este comportamento é que faz com que a indústria precise optar por modelos de produção que sejam cada vez mais eficientes e que levem a redução dos custos. Empresas que se atrasarem na adoção de tecnologias de maior produtividade fecharão as portas.

Mas tem consequências ...

Estas novas tecnologias, aumentam a produtividade e reduzem o número de trabalhadores. Como importamos a maior parte desta tecnologia, os postos de trabalho fechados aqui, são criados lá fora, causando um desemprego setorial.

... que trazem prejuízos ...

Para o industrial é questão de sobrevivência a adoção tecnológica, e para o consumidor questão de acesso a bens e serviços ao qual ele não tinha, agora possibilitados pela redução nos custos de produção. E o trabalhador? É o único perdedor neste processo?

... aos menos qualificados.

É fato que as máquinas substituem trabalhos repetitivos e estafantes, mas uma quantidade de trabalhadores empregados nestas atividades, não estão e tampouco ficarão preparados para desempenhar funções que exijam mais qualificação.

Uma falha de mercado ...

A isso denominamos uma falha de mercado - situação na qual a lei de oferta e procura leva a resultados que não são eficientes – que podem ser melhorados do ponto de vista da sociedade.

... que precisa ser mitigada ...

Somente processos de capacitação desta mão-de-obra não dará conta de resolver a situação. A forma de inclusão é pela redução da jornada de trabalho em setores intensivos na utilização de tecnologias economizadoras de mão-de-obra.

... gerando novos postos de trabalho.

Além de ser uma transferência do ganho de produtividade, criará o espaço para novas contratações a fim de preencher o espaço deixado na jornada de trabalho.

De difícil consenso ...

O setor industrial vai se manifestar contrário a tal medida, argumentando mais um entrave para a livre iniciativa. Mas é uma medida a garantir o modelo capitalista de produção. Sem empregos não há para quem vender.

... mas factível de realizar.

Será preciso desenvolver uma métrica que permita identificar a relação entre aumento da produtividade e redução na jornada de trabalho, e incluir tal medida na legislação.

A tecnologia assim cumpre seu papel de: a) oportunizar acesso a bens e serviços pela redução de custos advinda do ganho de produtividade; b) eliminar o trabalho estafante e insalubre; e c) permitir que o trabalhador obtenha seu salário com a entrega de menos horas.

Marcos J. G. Rambalducci - Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.

Os artigos publicados não refletem, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina.

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